Jorge Antonio de Queiroz e Silva
Noel Nascimento. |
Entre os dias 1.º e 5 de agosto deste ano, estive recolhido em casa durante cinco dias para recuperação de uma cirurgia bucal.
Desses momentos, duas lembranças inesquecíveis: o carinho excepcional da esposa Zélia e dois livros entregues pelo carteiro, enviados pelo confrade, ensaísta e poeta Noel Nascimento. Os trabalhos que recebem a assinatura do Nascimento são de qualidade ímpar. Coreto de papel é o que mais me chamou atenção. Aliás, numa carta datada de 30 de julho de 1994, endereçada ao Nascimento, a saudosa Helena Kolody frisava: ?A atmosfera do livro é de amor: amor que deseja a felicidade de todos, sobretudo o dos humildes e injustiçados?. Vejamos alguns versos.
As leituras agradáveis propiciadas por Noel Nascimento, além do afeto de minha esposa, aceleraram o final de minha convalescença. A boa leitura e a prática do amor verdadeiro são receitas valiosas que deveriam fazer parte do cotidiano das pessoas.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
queirozhistoria@terra.com.br
***
A sensibilidade no poema O valor da rosa:
É sonora a linguagem dos pássaros,
que cantam;
é silenciosa a imagem das flores,
que encantam.
A fé no poema Livro sagrado:
Ao abrir-se a Bíblia sideral
– a capa é o céu –
as galáxias, constelações
e nebulosas mal interpretadas
são versículos de estrelas.
É preciso falar a língua dos anjos
e conhecer a escrita celeste
para entendê-las.
O espírito paranista no poema Paranaense:
Todos os dias eu ouço o rumor das Cataratas
e o gemido de Iaras dando à luz,
piso no Guairá encantado
dos guaranis,
um teatro em Curitiba.
Vejo o majestoso rio
petrificado no Palácio Iguaçu.
A preocupação com as pessoas abandonadas
no poema Meninos de rua:
Crianças sem paz
e sem amor.
Sujos, maltrapilhos.
Vou banhá-los
num pingo de chuva,
numa lágrima.