Nobre plebéia

Os olhos azuis e os fios louros quase nunca deixaram que Vera Zimmerman interpretasse, na tevê, personagens pobres ou sofridas. Assim aconteceu desde sua estréia na Globo em Vida nova, em 1988, e em outras novelas, como Meu Bem, Meu Mal, de 1990 – trama de Cassiano Gabus Mendes que a consagrou na pele da ?divina? Magda. ?Aquela história me tornou conhecida nacionalmente. O personagem era muito bom!?, recorda. Desta vez, Walcyr Carrasco pensou diferente de outros autores e escalou a santista de 42 anos para viver um papel mais denso em O profeta. Na atual trama das seis da emissora, a atriz de sorriso encantador vive Ester, uma mãe com poucos recursos, que foi abandonada pelo marido Henrique – de Maurício Mattar – e tenta se virar na grande São Paulo dos anos 50 ao lado da filha Baby, interpretada por Juliana Didone. ?Adoro fazer personagem que saem dos padrões ?Vera Zimmerman?. Sempre interpreto mulheres ricas e bem-sucedidas. É legal fazer um papel que fuja das minhas características?, esnoba.

P – Como você se preparou para interpretar a Ester?

R – No início da trama, minha personagem se mostrou muito dura e severa. Uma mãe demasiadamente preocupada com a filha. Por conta disso, tentei aproveitar qualquer oportunidade que ela tivesse de mostrar seu lado afetivo e carinhoso. Fiz isso para que a Ester não fosse só uma mãe que vigia, corta e condena a filha. Inclusive, para que o público se identificasse com ela.

P – O que foi mais difícil na construção da personagem?

R – Tudo é difícil. Estava há algum tempo fazendo apenas teatro e tive de redescobrir muita coisa, porque na tevê é tudo muito rápido. O ator não tem tempo de trabalhar as cenas. Além disso, a tevê tem uma linguagem totalmente diferente do teatro. Agora, a riqueza do personagem ajuda bastante, porque tem um conteúdo que o ator pode usar em cena.

P – Que mensagem da sua personagem você considera a mais marcante?

R – Nos anos 50, uma mulher viver sem ajuda do marido era muito difícil. E uma mulher desquitada como a Ester era muito mal falada. Essa condição era reprovada pela sociedade da época. Então, desde o início, pensei na Ester como uma grande guerreira. As pessoas falam: ?Ai, deixa sua filha namorar!?. Só que seus traumas são grandes e ela não quer que a filha cometa os mesmos erros.

P – Qual é a importância em mostrar esse preconceito que a Ester sofre na novela?

R – É importante para a geração que não viveu a época saber como a sociedade se transformou. O cuidado era redobrado naquela época, a liberdade quase não existia. O homem podia sair sozinho, mas a mulher não. Isso mostra como os costumes eram diferentes. A mulher separada tinha de tomar um cuidado enorme para conseguir viver na sociedade com dignidade. E acho que, por causa disso, depois dos anos 60 começaram as grandes revoluções, as grandes brigas políticas. E as mulheres queriam a igualdade.

P – O que você acha o mais bacana da história de O profeta?

R – Gosto muito do tema espiritismo. É importante que o público da novela tenha um conhecimento sobre esses poderes mais profundos, que algumas pessoas têm e não sabem como lidar. Acho a paranormalidade uma questão real. Só que as pessoas não têm informações. O próprio Marcos, do Tiago Fragoso, tinha essas visões e não as compreendia. E isso pode ser desenvolvido e estudado.

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