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No Rock in Rio, Scalene é a aposta brasileira

Trinta e dois anos atrás, uma cena roqueira explodiu com a presença de uma banda carioca e conexões brasilienses no palco imenso do então estreante festival Rock in Rio. Depois da arrebatadora performance dos Paralamas do Sucesso, iniciou-se o movimento que ficou conhecido como BRock, um rock nacional com identidade própria criada a partir das referências estrangeiras absorvidas. Depois na onda do trio liderado por Herbert Vianna, pipocaram as cenas de Brasília, Rio e São Paulo. O que era underground estourou a bolha, chegou às rádios e às TVs. Ouvidos jovens brasileiros passaram a absorver os sabores das guitarras tropicais e, ao mesmo tempo, pesadas.

Existe uma nova cena de rock nacional borbulhando debaixo das vistas do mainstream, pronta para ser descoberta pelo consumo de massa. E a banda que carrega a responsabilidade de representar esse movimento independente é a brasiliense Scalene, que estará, às 19h, no palco Mundo, o principal do Rock in Rio. Nome mais popular do ambiente alternativo graças à visibilidade ganha ao participar (e terminar em segundo lugar) do reality show musical da TV Globo Superstar, em 2015, e vencedora do Grammy Latino de melhor disco de rock em língua portuguesa, Scalene é também a mais indicada a estar no alto do principal palco montado na Cidade do Rock, nesta quinta, 21.

Com três discos lançados – o terceiro, chamado magnetite saiu há um mês -, o grupo tem uma base consistente de fãs e força de palco para disputar atenção em uma noite de festival na qual dividirão atenção com Fall Out Boy, Def Leppard e Aerosmith, atrações que se apresentam na sequência deles.

Porque em um ambiente de sonoridades díspares como o SuperStar, o Scalene impôs o peso das guitarras de Tomás Bertoni e a voz etérea do irmão dele, Gustavo. Com magnetite, eles ampliam o escopo e aquecem o que antes soava gélido e afiado. Chegam ao Palco Mundo com um álbum que soube aliar as melodias tortuosas, às vezes asfixiantes, com composições que deixam a linguagem metafórica e pisam no chão, em contato com o mundo real. “De fato, fizemos um disco mais assertivo”, conta Tomás, o guitarrista da banda. “Não queria que fosse um álbum duro, apenas. Que quem ouvisse ficasse deprimido. Queríamos que gerasse essa identificação e despertasse uma vontade de evolução, uma mudança. Não nos interessava que fosse apenas um desabafo. Queríamos provocar algo a mais”, completa.

Em Esc (Caverna Digital), a crítica é ao mundo digital, que afugenta o próximo, empobrece o diálogo e amplifica vozes carregadas de ódio, como um encontro entre o Mito da Caverna, de Platão, com algum filme de ficção científica. Já Distopia usa da ironia: a tal distopia, que significa um futuro ameaçador e aterrorizante, ao ser descrita na música, fala sobre o terror real. Ponta do Anzol, por sua vez, soturna e cadenciada como stoner rock, mas sua mensagem é a busca por algo melhor.

Bastante atuante no cenário das bandas independentes, a Scalene tem trabalhado para fomentar a existência de uma cena autoral aproveitando-se da onda de popularidade criada a partir do programa da Globo. Gravaram canções com outras bandas, como Supercombo e Far From Alaska, e até criou um festival em Brasília, para reunir os grupos que partilham dessa liberdade e vontade de fazer sua caminhada por conta própria, o Festival CoMA, realizado em agosto deste ano.

Diferentemente daquela performance em “casa”, o Scalene não estará entre os seus. Enfrentará a multidão de olhares estranhos e, às vezes, indiferentes, e tentará mudar isso ao longo de uma hora – tal qual foi na participação na TV. “Talvez seja loucura mostrar músicas novas nesse show”, avalia Tomás. “Mas nunca vivemos de escolhas sensatas”, ele, confiante, ri.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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