Não inventar (muita) moda é uma tendência forte nessa estação. No primeiro dia dos desfiles da São Paulo Fashion Week, realizada ontem, aquela sensação de que tudo está em suspenso, presente hoje na economia e os negócios em geral, marcou as passarelas. Em momentos de crise, ninguém quer correr risco. Por isso, os estilistas decidiram apostar no que sabem fazer e têm chance de vender mais. A apresentação da Animale, que abriu a semana de moda, deixou isso claro.

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Se, na temporada passada, Vitorino Campos, o jovem estilista à frente da marca, inovou com uma alfaiataria lânguida e minimalista, desta vez, ele lançou mão dos clássicos da grife: assimetrias, fendas, decotes e transparências para uma mulher sexy e matadora. “As roupas são todas possíveis de serem usadas nas ruas. Os tops por baixo de paletós, as transparências com forro… Não houve surpresas, mas eu gostei”, diz a consultora de moda Ucha Meirelles. A Animale trouxe à passarela duas modelos negras e manteve-se longe da polêmica que sofreu recentemente depois de uma vendedora da loja da Oscar Freire ser acusada de racismo pelo pai de um menino de 8 anos. Aliás, incluir negros no casting parece ser uma preocupação atual das marcas.

A estilista Raquel Davidowicz, da UMA, buscou referências em suas próprias criações, procurando alternativas para enfrentar obstáculos como a falta de matéria-prima nacional. “Como está difícil encontrar tecidos bons no Brasil, importei alguns lotes e fiz uma coleção só em preto, branco e cinza”, diz ela. A cartela reduzida, no final, mostrou-se acertada para a proposta da coleção, que mira no novo feminismo. “Tenho lido muito sobre o assunto e fico chocada que ainda hoje há reivindicações por igualdade de salários e de oportunidades no ambiente de trabalho. Achei importante usar esse mote”, afirma.

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Foi curioso ver as roupas neutras e sóbrias da UMA e, na sequência, observar os vestidos coloridos de modelagem sessentinha na passarela da PatBo, marca da estilista Patrícia Bonaldi. O contraponto prova que, na moda atual, a despeito de tendências, cada um prefere ficar em seu quadrado. “Fiz uma coleção alegre e jovem para uma mulher destemida”, diz Patrícia. Conhecida pelas roupas superbordadas, que fazem sucesso entre it-girls e afins, a estilista manteve-se fiel à sua moda festa, mas ousou e usou flores de resina e acrílico, além de canutilhos e paetês tingidos com tinta automotiva fosca, no lugar de cristais e pedrarias.

Cada um na sua tribo

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Para o desfile da Cavalera, o diretor criativo Alberto Hiar, conhecido como Turco Louco, trouxe 20 índios do Acre – 17 que nunca haviam saído da tribo Yawanawás – com intuito de promover uma performance durante o desfile, encenando um “ritual de purificação” no meio do Parque Villa-Lobos. O ator Reynaldo Gianecchini fez parte do casting. “Fiquei três dias lá. Olhamos para formigas, cupinzeiros e sentimos que aquilo poderia virar referência para nossa coleção”, diz Hiar. “E nos aprofundamos nos kenês, que são os desenhos que eles usam para fazer os acessórios e adornos.” Coincidentemente, a Osklen escolheu o mesmo tema indígena e apresenta nesta terça-feira, 14, uma coleção inspirada em outra tribo da mesma região do Acre. “Minha relação com a Floresta Amazônica vem desde os anos 1990, mas eu não tenho a intenção de levantar bandeiras indígenas”, diz o estilista da Osklen, Oskar Metsavaht. “Isso eu faço em outras esferas, não na passarela.” (Colaborou Mariana Belley)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.