No meio da galera

Não por acaso a atriz Norma Blum atua em uma novela voltada para o público jovem. A atriz de 67 anos interpreta a professora de português e avó, Dionísia, em Malhação, e acha que trabalhar em tevê a rejuvenesce. ?Me sinto mais nova trabalhando em frente às câmeras. Comecei aqui aos 13 anos e atuar com os garotos relembra minha infância?, destaca. Norma Blum, em 53 anos de carreira, já interpretou papéis marcantes como a protagonista Aurélia, em Senhora, de Gilberto Braga e a vilã Frau Herta, em Ciranda de pedra. Agora, ela está em uma nova fase e orgulha da troca existente entre os atores iniciantes e os mais experientes. ?Eles pedem nossa ajuda de forma indireta. Converso muito sobre a história da tevê. Participei da tevê ao vivo e eles querem saber um pouco desta época. Em troca, ganho a perspectiva de mundo deles, que é bem diferente da minha?, comenta a atriz, que faz parte do primeiro elenco de novelas da Rede Globo.

P- Você ressalta a diferença de perspectiva entre os jovens atuais e os da sua época. O que mudou entre uma e outra geração?

R- Minha geração teve como grande foco o verbo mudar. Todos eram engajados na tentativa de fazer uma mudança, em transformar o mundo em um lugar melhor. Hoje, esta visão coletiva não existe. O individualismo impera. Os jovens só querem saber de ganhar dinheiro e no que vão fazer à noite. Este é o lado negativo da juventude de hoje. Em contrapartida, atualmente, a tolerância dos jovens é muito maior. Eles são muito mais abertos às diferenças. Na nossa época, por termos uma criação mais rígida, o diferente era fruto de preconceito.

P – A tevê não proporciona grandes papéis a atrizes mais maduras. Você acha que suas atuações ficaram mais restritas com o passar do tempo?

R- De fato, na tevê não existem protagonistas para pessoas idosas. Na verdade, acho essa palavra idosa muito falsa, prefiro velha, mesmo não me sentindo uma. No teatro consegue-se encontrar ótimos papéis para senhoras. Mas não acredito que nenhum personagem possa ser restrito. E papéis de senhoras também são maravilhosos de se fazer. O grande truque é abraçar e ir a fundo em cada papel que você recebe. Em toda minha história como atriz fiz isso.

P- Sua carreira é confundida com a história da tevê. Você acompanhou de perto o caminho traçado pelas novelas brasileiras. Em sua opinião, qual é o momento da dramaturgia nacional?

R- Estamos com um forte aliado para ajudar na condução de uma trama: a tecnologia. Com ela, as cenas podem ser obtidas com maior veracidade. Mas se pudesse fazer uma crítica, seria na renovação de autores. Sinto falta de um Dias Gomes rindo das mazelas de nossa sociedade, de uma Janete Clair. Faltam impacto em algumas novelas. Temos ótimos autores, como Gilberto Braga e o Sílvio de Abreu, mas é preciso desenvolver mais autores para enriquecermos o enredo das tramas. Talvez adaptar mais romances.

P- Na década de noventa, você se afastou da mídia. Por quê?

R- Além do meu trabalho de atriz, sou escritora. Decidi partir mais para este lado literal. Mas nunca deixei de ser atriz. Fiz também muito trabalho de teatro empresarial, teatro espiritual. Rodei o Brasil fazendo isso. E, quando você sai do eixo Rio-São Paulo, você acaba saindo da mídia.

P- Você tem uma história extensa não só na tevê, como no teatro e no cinema. Tem alguma preferência por algum deles?

R- Amo o teatro. Acredito que é onde o ator se forma e ganha experiência. Mas não sou daqueles atores que só fazem tevê para estarem em foco na mídia. Tenho um grande carinho pelo meio televisivo, onde inclusive comecei. Tive papéis marcantes tanto na vida do público, quanto em minha própria vida. O cinema é outra paixão e uma linguagem que domino muito bem. Só não entendo o porquê dos novos diretores da área esquecerem da Norma Blum. Depois do final da década de oitenta, nunca mais fiz um filme. Queria ainda fazer cinema. É um projeto que ainda tenho. 

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