O Brasil se prepara para a chegada da tevê digital. A mudança completa do sistema analógico atual para o digital vai levar pelo menos dez anos. Mas a largada que vai deflagrar todo o processo, no entanto, está prevista para o final do primeiro semestre de 2003. É quando o Ministério das Comunicações deve decidir qual será o sistema digital adotado no Brasil. Três padrões estão no páreo: japonês, europeu e americano. Desde 98, a Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações – vem realizando testes com os sistemas e a maioria das emissoras já estudam cada um deles. “O problema consiste em enviar o sinal digital para o consumidor da maneira mais eficiente. É isso que estamos discutindo”, explica Roberto Franco, diretor de tecnologia do SBT e conselheiro da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações.
Junto com a Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão -, a Set realizou de setembro de 99 até março de 2002 testes com os três padrões digitais. Apesar dos padrões serem 90% idênticos, cada um têm particularidades que podem fazer a diferença no Brasil. Pelo menos SBT, Globo, Record e MTV estão apostando no modelo japonês. Segundo Carlos Brito, gerente de engenharia da Globo, o padrão desenvolvido no Japão é o que tem melhor desempenho no aspecto da tevê portátil. Ou seja: o sinal é melhor recebido para o espectador que queira ver tevê de dentro do automóvel, por exemplo. “O ideal é o padrão com mais ferramentas disponíveis porque é uma incógnita a reação do espectador. A teve digital vai ser uma revolução no modo de produzir e assistir a televisão e é preciso ter flexibilidade para atender às exigências”, pondera Carlos Brito.
Mil novas possibilidades
A preocupação do diretor global é em relação às possibilidades que a tevê digital vai abrir para o espectador. Com o sistema digital, a interatividade vai ganhar nova dimensão. Vai ser possível, por exemplo, através do controle remoto, determinar os melhores horários para assistir programas favoritos, ativar informações complementares sobre o que se está assistindo, se inteirar sobre a meteorologia ou mesmo escolher o ângulo para ver determinada jogada de uma partida. Isso sem contar que a imagem será em alta resolução e sem interferências. Atualmente entre uma emissora e outra percebe-se uma diferença de qualidade de imagem, que vai acabar com a tevê digital, pois o padrão para todas as emissoras será o mesmo. “O problema é que o espectador vai ter de comprar um decodificador para tornar o televisor analógico em digital”, afirma José Marcelo, diretor corporativo da Record.
Como os televisores digitais custam caro – o mais barato custa atualmente R$ 7 mil – a saída para que os espectadores brasileiros comecem a receber o sinal digital será realmente o decodificador – aquela caixinha já usada pelos canais por assinatura. O preço, no entanto, ainda é considerado elevado pela maioria das emissoras, já que a previsão é que custe uma média de R$ 200. “Mas, em três anos, o preço deve cair pela metade”, prevê Paulo Saab, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos.
Por dentro da publicidade
Outro aspecto que vai mudar com a tevê digital será a publicidade. Como o espectador vai planejar a própria programação, inclusive sem os comerciais, ou pedir para comprar determinado objeto de uma cena, a maneira de se fazer publicidade vai ter de ser revista. “O público vai poder se aprofundar na oferta do anunciante se gostar da propaganda”, afirma o publicitário Rodrigo Leão, da agência W/Brasil. Mas a tevê digital vai mexer mesmo é com as emissoras. Após a definição do padrão digital, elas terão 18 meses para se adaptar à nova realidade. É ponto pacífico que a Globo é a mais adiantada no processo. Há dois anos está adaptando a sua estrutura e já gastou cerca de US$ 10 milhões. “A primeira providência das emissoras será adquirir um transmissor digital, que custa em torno de US$ 1 milhão. Quem não tiver condições financeiras, vai penar com a tevê digital”, garante Valter Pacotto, diretor de engenharia da MTV.
Argentina espera o Brasil
# Os Estados Unidos e a Europa possuem, cada um, 250 milhões de televisores digitais. No Japão, o total chega a 100 milhões.
# A Record fez o primeiro teste digital no Brasil em 99. O padrão foi o americano e houve uma interferência devido à linha de trem próxima ao local da transmissão.
# Na Europa, o Reino Unido foi o primeiro a ter a tevê digital em 98. Em 99, Espanha e Suécia começaram as transmissões, em 2000 a Finlândia e Irlanda e, por último, a França em 2001. Na Irlanda, a cobertura já atinge 95%.
# A Argentina quase definiu o padrão americano para a tevê digital. Mas as negociações não foram a diante e agora o país espera a decisão do Brasil para só depois voltar ao assunto.
# Com a tevê digital, o espectador vai poder, por exemplo, durante o capítulo de uma novela, pedir para ver cenas do dia anterior, informações sobre determinado ator ou a sinopse da trama. Além de poder comprar os produtos da cena.
Primeira linha de alta definição
Apesar de ainda não estar definido o padrão digital que será utilizado no Brasil, a Philco lançou em maio de 2002 a primeira linha de televisores de alta definição. Atualmente, o Brasil conta com 50 milhões de aparelhos que utilizam a tecnologia analógica. O aparelho de 32 polegadas, por exemplo, vai custar inicialmente R$ 6,5 mil e o de 42 polegadas R$ 23,5 mil. Os equipamentos representam um passo intermediário entre as tevês analógicas e as tevês digitais, que vão dispensar o decodificador. As novas tevês da Philco possuem um tubo especial que oferece maior qualidade de recepção de áudio e imagem, além de poderem ser plugadas a um computador e fazer as vezes de monitor.
Um aperitivo do que pode ser a tevê digital pode ser conferida através das tevês pagas via satélite, cujo sinal chega por miniantenas parabólicas. No entanto, apesar da imagem ser digital, não é em alta definição.