No primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República que ocorreu na quinta, 9, além do discurso dos políticos, as escolhas de roupas chamaram atenção, afinal elas também carregam uma mensagem nas entrelinhas.
Por se tratar de uma eleição no meio de uma crise política, em que o eleitor está em busca de coisas novas, alguns candidatos usaram a moda a seu favor com produções ligeiramente mais modernas. É o caso de Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede). “Boulos fez uma escolha de estilo. Ele não usar terno e gravata é uma forma de mostrar que ele não faz parte da corja política. Ele está mandando uma mensagem. O Obama também fazia essa linha, de aparecer com a manga arregaçada”, explica André do Val, consultor de estilo masculino.
“Ele estava destoante, por estar casual demais”, explica a consultora de estilo Bia Paes de Barros. “Mas tem uma ideia por trás. As mangas arregaçadas dão a ideia de ‘eu arregaço as mangas e faço, sou próximo do povo’. A leitura é de que ele não tem a coisa engomada do político.”
Dias estava com um blazer e camisa azul-marinho, sem gravata, alinhado com as últimas tendências de moda de grifes tradicionais como Armani e Ermenegildo Zegna. “O monocromático é um recurso que deixa tudo mais elegante e sofisticado”, comenta André. “Mostra modernidade e insinua que ele não é da mesma laia que os outros candidatos.”
A consultora Bia Paes de Barros discorda. “Dias me chamou atenção de uma forma negativa, porque ficou quase inadequado. Deu a impressão de ser uma roupa noite, por ser muito escura. É uma imagem que não é compatível com a idade dele, uma modernidade que não combina”, avalia.
“A Marina Silva foi de branco, uma cor que fica bem nela. Nesse sentido, a mulher é mais flexível. As roupas dela e os acessórios, como o colar usado ontem, sempre remetem à natureza, ao ambientalismo”, explica o consultor sobre a candidata que estava de blazer branco sobre uma blusa laranja, calça preta e os cabelos presos.
“Ela sempre foi muito coerente com o que veste. Usando branco, consegue um grande destaque contrastando com as cores escuras dos ternos dos outros candidatos”, analisa Bia. “Ela sempre usa os cabelos presos em um coque discreto porque, se deixar os cachos soltos, o cabelo vem primeiro que o rosto dela, e ela não quer que a estética chame mais atenção do que o discurso. É uma posição que as mulheres adotam na política, de uma maneira geral.”
Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Henrique Meirelles (MDB), todos com longa carreira na política, optaram pelo visual mais conservador. “Estamos em um momento político complicado, está todo mundo pisando em ovos. Os candidatos mais tradicionais não colocaram nada fora do convencional. Terno alinhado, camisa branca e cada um com uma cor de gravata”, explica André. “Quando o visual é mais controlado, mais ajustado, a gente enxerga como algo com menos movimento. Perde a imagem de mobilidade e dinâmica”, analisa Bia.
“Candidatos do PSDB sempre estão de azul, às vezes em tons mais claros, às vezes em escuro, é uma cor que tem a mensagem de leve e positiva”, continua Bia. “Do outro lado, Ciro Gomes optou por uma gravata vermelha, cor que é associada à esquerda no mundo todo. A própria Marina Silva também tem esse cuidado com as cores. Ela evita usar tons fortes, o que combina com o seu discurso.”
Meirelles também chamou atenção do público por ter ficado com a gravata torta durante quase todo o programa. “Foi uma falha da assessoria, que deveria ter o avisado. Uma gravata torta não passa mensagem nenhuma”, diz Bia.
Jair Bolsonaro (PSL) e Cabo Daciolo (Patriota), os dois candidatos com a postura mais agressiva estavam com visual compatível com as ideias. Ambos estavam com a gravata solta (sem prendedor) e o blazer desabotoado. “Imprime um relaxo”, comenta André. “Mas não dá para saber se isso foi calculado ou se foi natural”, finaliza.