Já o primeiro número é de tirar o fôlego: Nine – Um Musical Felliniano começa com o foco no cineasta Guido Contini (Nicola Lama) ouvindo as reclamações da mulher (Carol Castro), insatisfeita com a distância do marido e ameaçando divórcio. As duras palavras dela, no entanto, não impedem que Guido se perca em seus delírios, recebendo a visita imaginária de outras mulheres de sua vida: a mãe (Beatriz Segall), a amante (Malu Rodrigues), a musa de seus filmes (Mayana Moura), a prostituta (Myra Ruiz) e a produtora de seus filmes (Totia Meireles).

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“Nine fala sobre o poder das mulheres e como elas representam eros e tanatos”, observa o diretor Charles Möeller que, como de hábito, aprofundou estudos sobre o assunto, chegando a relacionar as intenções de Federico Fellini em 8 ½ com as definições psicanalíticas de Jung. “8½ é o mais junguiano dos seus filmes. Ele descobriu todos os seus arquétipos e ‘animas’ e os colocou no filme, que é uma cartilha de signos, sonhos e enigmas.”

Daí surgiu sua proposta de direção, baseada em uma estrutura fragmentada, pois Guido, em sua busca pela inspiração, trata o real e o imaginário simultaneamente. “A peça se passa toda dentro da cabeça do Guido, seguindo a lógica de um sonho, onde ele reencontra fantasmas do passado, revê suas musas e tenta criar o seu próximo roteiro”, diz Möeller.

“Fellini era amante dos musicais e a música sempre tinha um papel fundamental em seus filmes. Sua parceria com o compositor Nino Rota é um acontecimento na história do cinema”, completa Claudio Botelho, que também assina a direção musical e a versão brasileira.

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Para a delirante trajetória de Guido Contini, Möeller e Botelho convocaram um elenco respeitável, que une experiência e frescor da novidade. A começar pela veterana Beatriz Segall que, aos 88 anos, aceitou o desafio de enfrentar pela primeira vez uma produção ao nível da Broadway, ainda que já tenha participado de um musical em sua carreira (veja ao lado). Na mesma linha de apostar em novos talentos para o musical, a dupla convidou as novatas no gênero Carol Castro, Leticia Birkheuer e Mayana Moura. “Eu me dividi entre os ensaios de Nine e a filmagem, no Rio, de O Herdeiro, novo longa de Roberto Santucci”, conta Carol. “Alternava comédia com drama.”

Já Leticia que, como Carol, também fez aulas de canto, descobriu os mistérios de atuar, cantar e dançar naturalmente. “Ao final, a representação precisa ser orgânica, o que exige muitos ensaios”, disse.

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Do outro lado, estão as atrizes mais experientes – como Totia Meireles, cuja atuação no musical Gipsy, em 2010, tornou-se histórica. E também Malu Rodrigues que, embora some apenas 21 anos, prepara-se para estrear o nono musical sob a direção de Möeller e Botelho.

“Essa intimidade artística foi essencial para meu novo papel, pois exige mais despojamento físico na minha atuação”, conta Malu, que participa de cenas sedutoras com Nicola Lama.

Italiano de nascimento, há dez anos no Brasil, Lama tem a chance de reafirmar seu grande talento no papel do atormentado Guido Contini. “Busco apresentar um personagem italiano que não se pareça com o estereótipo que o mundo conhece”, diz Lama, que ainda não esconde um leve sotaque. Ele também busca referências. “Vejo em cada uma das mulheres de Guido alguma que eu tenha conhecido e que traduza seus sentimentos.”

A sofisticação de Nine se completa com a coreografia de Möeller e Alonso Barros e os figurinos de Lino Villaventura.