Foram mais de 70 anos de carreira, devidamente documentados em discos, fitas, partituras, manuscritos, jornais, revistas, pôsteres e fotografias. Do fim da década de 20 até pouco antes de morrer, em junho deste ano, aos 95 anos, Jamelão guardou tudo o que podia sobre sua trajetória na música brasileira – das noites nos dancings cariocas ao reconhecimento como a voz da Mangueira. Sua ‘memorabília’ está agora sob a guarda de Jamelão Neto, que segue a carreira do avô e pretende recuperar este acervo.
O que o rapaz de 28 anos e registro vocal que tende ao do avô quer é que ele permaneça vivo não só como o intérprete da escola de samba (defendeu o verde e o rosa na avenida por quase seis décadas), de gênio forte e fama de mal-humorado, mas também como o vozeirão dos samba-canções de Lupicínio Rodrigues, além de compositor de lindos sambas (Esta Melodia, Eu Agora Sou Feliz; Fechei a Porta, Cântico à Natureza), que criou até os 93 anos.
Com este objetivo, Jamelão Neto chamou uma empresa especializada em desenvolver projetos culturais, a Museo. Quer recuperar o material do avô, deteriorado com a ação do tempo, organizá-lo e, futuramente, digitalizá-lo para exibição. Também vai pleitear a inclusão do projeto, ainda a ser formatado, na Lei Rouanet, para então, inscrevê-lo em diferentes editais de empresas que patrocinam cultura.
O trabalho não tem sido fácil. Na última Páscoa, com o sambista ainda vivo, um problema hidráulico destruiu parte do acervo, que estava em seu apartamento. “Abri a porta e tinha uma cachoeira sobre uma estante. Fiquei desesperado”, relembra. Munidos de óculos especiais, luva, avental e máscara, quatro funcionários, três museólogos e um arquivista manuseiam o material desde o fim de julho. A primeira etapa, de separação, quantificação e catalogação, deve ficar pronta em dois meses. Já a recuperação levaria cerca de dois anos, se todos os recursos fossem levantados. As informações são do Jornal da Tarde.