Netinho protagoniza o seriado ?A Turma do Gueto?

O apresentador José de Paula Neto, o Netinho, é do tipo persistente. Quando resolve fazer alguma coisa, não desiste enquanto não transforma a aspiração em realidade. Há dois anos, ele teve a idéia de fazer um seriado protagonizado por atores negros.

Chegou a investir dinheiro do próprio bolso para ajudar na produção de cada um dos 16 episódios da primeira temporada da série, orçados em R$ 150 mil cada. E mais: só aceitou renovar com a Record porque a emissora se comprometeu a exibir o seriado ainda este ano. Netinho tanto fez que “A Turma do Gueto” já tem estréia marcada para o dia 31 de outubro, às 22 h. “Este é o primeiro seriado em que os negros não fazem escravos ou serviçais. Quem sabe as outras emissoras não seguem o exemplo e investem em projetos semelhantes?”, torce.

Além de co-produzir “A Turma do Gueto”, Netinho também escreve e protagoniza os episódios. No seriado, ele interpreta Ricardo, professor de ensino superior que retorna à periferia de sua cidade natal para trabalhar na escola pública Quilombo. Nessa volta às origens, reencontra dois amigos: Jamanta, personagem de Nill Marcondes, que virou traficante, e Edson, de Jorge Marcondes, que está desempregado. De quebra, ele revê também Tina, uma ex-namorada interpretada por Ana Paula Demambro, e se envolve com uma aluna, Pamela, vivida por Adriana Alves. “Não dá para falar de periferia e não abordar pobreza, tráfico e racismo. Mas vamos enfocar também outros assuntos, como planejamento familiar e ensino público”, avisa.

À primeira vista, o argumento de “A Turma do Gueto” faz lembrar “Ao Mestre, com Carinho”, filme de James Clavell que celebrizou Sidney Poitier como professor idealista que transforma a vida de uma turma de alunos rebeldes de um bairro operário de Londres. Netinho, porém, refuta a comparação. Ele garante que a maior inspiração veio mesmo de “Malhação” e “Sandy & Júnior”, da Globo. “Esses seriados são muito bem-feitos, mas só retratam 10% da população. Quero mostrar a realidade dos 90% que estudam em escola pública…”, alfineta.

Da periferia

Na hora de escalar o elenco, Netinho sugeriu que o diretor Pedro Siaretta selecionasse atores na própria periferia de São Paulo. Depois de fazer teste em 800 novatos de escolinhas de teatro, Siaretta chegou aos 36 que compõem o elenco do seriado. A atriz mais experiente do grupo é Samantha Monteiro, que faz o papel de Léa, professora de Ciências. Todos os demais são iniciantes. “O único problema é que os mais humildes têm dificuldade de contracenar com o Netinho. Eles gaguejam, tremem dos pés à cabeça…”, entrega o diretor.

Logo na primeira semana de gravação, Siaretta reuniu alguns atores e resolveu fazer externas em Capão Redondo, nas redondezas de São Paulo. “Foi simplesmente impossível. Quando o pessoal viu o Netinho, não conseguimos fazer nada. A confusão foi enorme!”, diverte-se. O jeito foi erguer uma cidade cenográfica, de aproximadamente três mil metros quadrados, no bairro paulistano de Bela Vista. A ida do elenco ao Capão Redondo, porém, serviu para Netinho lembrar da própria infância em Carapicuíba, uma das regiões mais violentas de São Paulo. “As crianças da periferia só têm três exemplos a seguir: a música, o esporte e o tráfico. Infelizmente, elas não têm ídolos negros na tevê. Onde já se viu isso?”, protesta.

Referência

Aos poucos, o próprio Netinho virou referência para milhares de crianças da periferia do Brasil afora. A exemplo de seu personagem em “A Turma do Gueto”, ele também estudou em escola pública, saiu da periferia e mantém projetos sociais. Um deles é a sede da Família Negritude, instituição que cuida da educação de 1200 jovens carentes. Mesmo sabendo que os professores ganham um salário risível e têm péssimas condições de trabalho, acredita que a escola pública possui um papel importante no desenvolvimento do país. “Sempre pensei no meu futuro. Sabia que só eu poderia definir como seria meu amanhã. Se tivesse sido um sujeito revoltado, não teria conseguido tudo que consegui na vida”, alerta Netinho.

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