Não é de hoje que Nelson Rodrigues aparece saudado como o maior dramaturgo do País. Talvez um dos maiores do mundo. Será mesmo? “Essa é a nossa pergunta e é para isso que queremos resposta”, diz Marco Antonio Braz, diretor devotado à obra rodriguiana desde os anos 1990. “Não queremos criar um novo mito, mas revelar aquilo que ele, de fato, fez.” Às vésperas do centenário do autor – que completaria 100 anos em 2012 – Braz capitaneia um movimento pela revisão de sua vasta obra.
Uma iniciativa que deve ter início oficial no próximo dia 23. Para a data em que Nelson completaria 99 anos, o encenador prepara a estreia de “O Beijo no Asfalto”. Mas a peça será apenas o prenúncio de uma série de montagens e atividades que estão previstas para o ano que vem. Entre os planos, merece relevo a intenção de se criar uma fundação inteiramente dedicada ao escritor. Nela, se reuniriam, pela primeira vez, várias informações hoje dispersas.
“Se você quiser saber quantas montagens foram feitas do Nelson Rodrigues no exterior, ninguém saberá responder a isso formalmente. É uma vergonha”, aponta Braz. Da mesma maneira, também são controversos os relatos sobre quantas teses de mestrado e doutorado já foram dedicadas ao autor de “A Falecida”. Ou sobre quais seriam as traduções já feitas de suas peças. A ideia que se aventa para o centenário é a de lançamento de uma “fundação virtual”, espaço em que todos esses dados estariam à disposição do público.
Inicialmente, explica Braz, os planos previam a construção de uma fundação com sede física. “Mas isso só poderia ser feito pelos herdeiros”, relata ele. “E, como as coisas não evoluíam, começamos a buscar soluções mais práticas.”
Parceiros do governo e da iniciativa privada estão sendo procurados para auxiliar na empreitada. Os planos para a fundação virtual já são objeto de negociação com o Itaú Cultural. E poderiam culminar, inclusive, com uma exposição nos moldes daquelas que o instituto organizou recentemente para outros notáveis, como José Celso Martinez Corrêa e Flávio Império.
Outro dos focos do centenário será um amplo ciclo de leituras. O projeto contemplará todas as 17 peças do autor, que serão apresentadas na ordem cronológica em que foram escritas. Sempre com a participação de quatro ou cinco convidados. Ao fim do ciclo, a intenção seria conseguir reunir e documentar os depoimentos de cerca de 90 estudiosos e/ou contemporâneos do escritor. As leituras não devem excluir a realização de espetáculos. Além da produção que entra em cartaz no dia 23, Braz prepara versões de “Os Sete Gatinhos”, “Valsa n.º 6” e “Boca de Ouro”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.