Nelson Cavaquinho ganha tributo em livro, disco e shows

Até o fim de sua vida, no dia 18 de fevereiro de 1986, Nelson Cavaquinho, cujo centenário de nascimento é comemorado nesta sexta-feira, lembrava-se com carinho de Sérgio Porto. Foi o jornalista que, nos momentos de dificuldades financeiras do sambista, quando ele teve até de vender a autoria de alguns de seus temas, quem ajudou o compositor mangueirense a comprar, por exemplo, os móveis de sua casa.

Figura de extrema simplicidade, mesmo nos tempos mais prósperos, estourando com suas composições – principalmente nas vozes de grandes intérpretes, como Elis Regina, Beth Carvalho e Clara Nunes -, Nelson saía das noites de sucesso no Teatro Opinião, no Rio, com os bolsos forrados do cachê. Virava as madrugadas nos botequins e não negava um prato de comida ou uma birita a quem quer que fosse, voltando para casa sem um tostão. Daí a alcunha de São Francisco do Samba.

Entre tantos apelidos recebidos por Nelson, talvez o mais coerente tenha sido o dado por Carlinhos Vergueiro, que batizou o amigo de Garrincha do Samba. O compositor, violonista e cantor é o responsável por uma da série de justas homenagens que serão prestadas aos 100 anos de Nelson, com o disco “Carlinhos Vergueiro Interpreta Nelson Cavaquinho”, que deve ser lançado esta semana. “Ele e o Garrincha eram dois gênios bem loucos, puros. Depois eu ainda fui descobrir que os dois nasceram no mesmo dia (em anos diferentes. Nelson é de 1911. Garrincha, de 1933). Acho que é uma comparação cirúrgica”, conta Carlinhos.

Poucas pessoas entendem tanto do assunto quanto ele, que desfrutou o convívio estreito com Nelson. Em 1984, ele produziu o álbum “Flores em Vida”, reunindo diversos intérpretes para cantarem os temas do compositor de Mangueira, pelo selo Eldorado. No ano seguinte, participou do documentário “Nelson de Copo e Alma”, dirigido pelo cineasta Ruy Solberg.

No disco novo, Carlinhos reuniu gente que teve ligação com Nelson, convidando, por exemplo, o amigo Chico Buarque para cantar “Nome Sagrado”. Cristina Buarque, que também havia produzido o LP de 1984, interpreta “Beija-Flor”. Além de Wilson das Neves, com “Folhas Secas”, e Marcelinho Moreira, com “Pranto de Poeta”. O disco vai para os palcos em novembro, com shows em Curitiba e em São Paulo (dia 22, no Tom Jazz).

Os tributos ao centenário de Nelson não se resumem a este trabalho. Ainda ontem, no auditório do Instituto Moreira Salles, no Rio, haveria uma mesa-redonda com a presença do jornalista e escritor Sérgio Cabral, de José Novaes, autor do livro “Nelson Cavaquinho: Luto e Melancolia na MPB”, e do jornalista João Pimentel, com mediação da presidente do Museu da Imagem e do Som, do Rio, Rosa Araújo. O mesmo IMS recebe nesta quinta-feira, às 20 horas, show com Moacyr Luz e Gabriel Cavalcante em homenagem ao sambista.

Em São Paulo, os tributos ao compositor estão marcados para o próximo mês. Do dia 3 ao 6 de novembro, o Centro Cultural São Paulo terá o espetáculo “Uma Flor para Nelson”, com apresentações de nomes como Benito de Paula e Marcos Sacramento (3), Ângela Rorô e Cida Moreira (4), Zezé Motta e Filipe Catto (5) e Teresa Cristina, Graça Braga e Verônica Ferriani (6).

Ainda em novembro, de 25 a 27, o Sesc Pompeia recebe o show Feliz Daquele Que Sabe Sofrer, lembrando o centenário de Nelson e outro gigante do samba, Assis Valente. No palco, interpretações de Ná Ozzetti, Arrigo Barnabé e Renato Braz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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