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Nathalia Timberg vai viver, no palco, a estilista pop Iris Apfel

Ao observar com mais atenção os óculos da atriz Nathalia Timberg – um vistoso par de lentes grandes e elegantes -, o ator e escritor Cacau Hygino teve um sobressalto. “É ela!”, pensou. Hygino descobrira naquele instante, há seis meses, a protagonista do monólogo que terminara de escrever, “Através da Iris”, sobre a estilista e decoradora fashion Iris Apfel, americana que, aos 96 anos, continua leve e sacudida e ainda muito ativa no mundo da moda. “São duas mulheres talentosas em sua arte e que desafiam a idade”, conta o dramaturgo.

“Através da Iris” já tem data de estreia: 5 de julho, em São Paulo – o teatro ainda está sendo negociado. E, em setembro, chega ao Maison de France, no Rio de Janeiro. Só não inicia carreira antes porque Nathalia continua emocionando plateias com seu espetáculo “Chopin ou o Tormento do Ideal”, em que divide o palco com a pianista Clara Sverner. Mesmo assim, a atriz já iniciou suas pesquisas. “Iris é uma mulher invejável, com rara disposição e muito talento. Temos muitos pontos em comum”, observa Nathalia que, com esse espetáculo, pretende iniciar a comemoração de seus 90 anos, a serem festejados em agosto de 2019.

Tal “joie de vivre”, como falam os franceses sobre a alegria de viver, é, de fato, um ponto comum entre as duas mulheres. Afinal, Iris retornou recentemente a Nova York depois de passar um mês no Japão, onde acompanhou uma exposição sobre seu trabalho. “Há uma possibilidade de ela vir a São Paulo para a estreia. Iris já aceitou o convite, mas precisamos ver como estará sua saúde na época”, conta Hygino, que teve a ideia de escrever sobre a estilista há um ano, ao vislumbrar uma foto no Instagram. “Descobri uma senhora muito moderna, sorridente, vestida de forma vistosa.”

Ao pesquisar na internet, chegou a um documentário, que lhe apresentou um ícone da moda e uma decoradora que cuidou dos salões da Casa Branca durante o mandato de nove presidentes americanos. Mais: apontada como uma das primeiras mulheres dos EUA a usar calças jeans, nos anos 1940 (“Tive de voltar três vezes à loja até que me vendessem uma”, diverte-se), Iris Apfel descobriu a fronteira que separa o exótico do bom gosto, sem nunca perder o prumo, especialmente no uso original dos acessórios, dom que aprendeu com a mãe.

Ela começou a carreira como decoradora e, ao lado do marido Carl (que morreu em 2015, aos 100 anos), percorreu o planeta em busca dos tecidos perfeitos até descobrir o mundo da moda e ali também deixar sua marca. Iris é uma profissional despojada, que aposta na perfeita combinação de itens incomuns que agrade ao consumidor. Seu lema: é melhor estar feliz que bem-vestido.

Foi essa mulher que incentivou Hygino a escrever uma peça. “Vi várias de suas entrevistas e notei que ela não teve uma vida palpitante – o interessante sempre foram suas opiniões (a maioria, irônicas) e seu trabalho”, conta o dramaturgo, sem saber que enfrentaria uma odisseia até chegar à estilista. “Ela não tem site ou qualquer endereço nas redes sociais. Como descobrir seu contato? Ninguém que eu conhecia tinha alguma pista. Até que vi, em uma foto que alguém postou no Instagram, ela posando à frente de uma placa com os dizeres “PA 480″ – Park Avenue, número 480! Era esse seu endereço.”

O que parecia uma vitória revelou-se, na verdade, apenas uma parte do caminho. “Mandei cartas e nada. Liguei nos números que pareciam ser dali e ninguém atendia.” Foram dois meses nessas tentativas até que um amigo conseguiu outro endereço, em Palm Beach, na Flórida. Desconfiado de que um número internacional estivesse desinteressando Iris, Hygino pediu a um amigo produtor, Victor Barroco, que vive em Nova York, para fazer as ligações. Foram mais dois meses sem nenhum “alô” até que, finalmente, uma empregada atendeu, confirmou ser aquela a casa de praia de miss Apfel e, felicidade suprema, forneceu o número correto de seu apartamento em Nova York, onde de fato estava.

Busca encerrada? Nada disso – Barroco fez inúmeras tentativas até que, enfim, Iris ligou de volta. Era julho deste ano e, interessada no assunto, ela aceitou marcar um encontro, desde que fosse em outubro, pois embarcaria para aquela viagem ao Japão. “Acertei minha agenda e reservei uma semana para finalmente conhecê-la”, lembra Hygino, que só conseguiu encontrá-la um dia antes do retorno. “Imaginei encontrar um apartamento suntuoso, cheio de empregados, mas descobri um local sem muito glamour e com apenas uma mulher, Juliette, no comando dos serviços.”

Aliás, parênteses rápidos, Hygino sentiu-se obrigado a acrescentar Juliette na trama, tamanha a dependência de Iris às opiniões dela. De volta ao encontro, Iris ficou encantada com as fotos de Nathalia (“Olha, Juliette, como ela se parece comigo!”) e com o texto preliminar escrito pelo brasileiro. Marcaram um novo encontro para janeiro, quando Hygino estará terminando as filmagens da comédia “Lucicreide Vai Pra Marte”, que terá cenas rodadas no Centro Espacial da Nasa, em Orlando. “Será o momento em que darei os retoques finais”, espera.

Mesmo com o texto ainda incompleto, Hygino já foi sondado por um produtor argentino, interessado em montar o monólogo em Buenos Aires. “Vou traduzir para o espanhol e buscar outros mercados. Sonho em ter Marisa Paredes na montagem da Espanha”, revela Hygino, avisando a necessidade de um “tour de force” de qualquer atriz. “Vamos usar videografismo, mas será puxado para Nathalia, que terá de desfilar e trocar de figurino em cena.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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