Nathalia Timberg está no monólogo ‘Paixão’

O envolvimento de Nathalia Timberg com as nuances das palavras se confunde com sua carreira artística, iniciada profissionalmente com a montagem de A Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, em 1954, quando interpretou D. Eduarda, sob a direção de Bibi Ferreira. “Tenho um carinho muito grande pela palavra, especialmente porque, nos últimos tempos, ela foi muito maltratada”, comenta a atriz. “As pessoas passaram a se comunicar quase que por onomatopeias. O pensamento ficou quase tão vago quanto sua expressão. Mas é preciso lembrar que são as palavras que dão as nuances, os matizes que diferenciam as ideias.”

Essa é a força motriz de Paixão, monólogo que se transforma em conversa à medida que Nathalia, com sua voz de tessitura grave, marcada por intervalos reflexivos entre as frases, gestos comedidos e elegantes, pronuncia fragmentos de poemas de Adélia Prado, Bocage, Drummond, Fernando Pessoa, Camões, Manuel Bandeira, Florbela Espanca e outros poetas brasileiros e portugueses. “Pronuncio, jamais declamo”, avisa ela. “Desde que estudei na escola dramática fundada por Jean-Louis Barrault, no início da minha carreira, aprendi que a declamação é a pior forma de se dizer versos.”

Assim, para que o ritmo poético se adapte perfeitamente à fala cotidiana, Nathalia contou com a colaboração do professor e linguista Haquira Osakabe, responsável pela pesquisa sobre as líricas portuguesa e brasileira. Com isso, a atriz consegue tornar atual até mesmo poesia escrita em idioma arcaico, como uma Cantiga de Amigo que, na lírica galego-portuguesa, é uma composição breve e singela, na voz de uma mulher apaixonada. “Apesar da estranheza das palavras, a musicalidade é encantadora, a ponto de Amália Rodrigues ter gravado uma cantiga há alguns anos.”

Não foi à toa, portanto, que Nathalia fez uma rigorosa inspeção no Teatro J. Safra, na primeira visita que fez, na quinta-feira, 17, acompanhada do jornal O Estado de S.Paulo. A atriz aprovou o madeiramento do palco, pediu a instalação de mais varas de luz e, mentalmente, começou a reduzir o espaço de cena, uma vez que o espetáculo pede uma área menor, mais íntima. “Não posso me movimentar muito, para não desviar a atenção do público”, comentou ela que, em determinados momentos, gostaria que os espectadores nem percebessem a movimentação de seus lábios.

Tamanho domínio do espetáculo – foi dela também a decisão de modificar o cenário, diminuindo os elementos em cena – transformou a atriz em uma codiretora, ao lado de Wolf Maia, que assinou a montagem original, de 1994. “A concepção é dele, mas fui responsável por várias alterações”, conta.

A segurança vem de uma carreira sólida, que completa agora 60 anos. Nathalia participou da montagem de textos clássicos contemporâneos, desde os franceses Marguerite Duras e Sartre aos americanos Arthur Miller e Eugene O’Neill. Encenou também trabalhos de dramaturgos nacionais, como Nelson Rodrigues (A Senhora dos Afogados) e Dias Gomes (participou da célebre encenação de O Pagador de Promessas, com direção de Flávio Rangel, no TBC, em 1960).

Ainda que considere o teatro sua moradia, a televisão lhe trouxe uma estrondosa visibilidade, especialmente quando assumiu o papel da vilã, como Juliana, em A Sucessora (1978), Constância Eugênia de O Dono do Mundo (1991) ou, ainda, a inescrupulosa e amarga Idalina, de A Força de Um Desejo (1999).

O próximo desafio poderá render outro papel marcante: o de uma senhora que vive há anos com outra mulher, em Três Mulheres (título provisório), novela de Gilberto Braga, que deverá estrear em 2015, na Globo. Fernanda Montenegro será sua companheira. “Já conversamos um pouco a respeito e nos divertimos muito”, brinca a atriz.

Show de Gal Costa ocupará o teatro em seguida

Com a apresentação de Paixão, para convidados, nesta quinta-feira, 24, será inaugurado um novo teatro em São Paulo, o J. Safra, no bairro da Barra Funda. Com 633 lugares, o espaço tem plateia e balcão, além da curadoria artística e direção da dupla Maurício Machado e Eduardo Figueiredo.

Depois de Nathalia Timberg, o palco será ocupado por Gal Costa – a cantora fará apresentações de seu show Voz e Violão, ao lado do músico Luiz Meira, entre os dias 1º e 10 de agosto.

Marília Pêra, com o musical Herivelto Como Conheci, em que interpreta os sucessos de Herivelto Martins, estava também na programação do teatro, mas um problema de saúde a obrigou a adiar a estreia. Ainda não há nova data para o espetáculo.

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