Não importa o estilo, importante é gostar de música

?Com o pão alimentamos o nosso corpo, e com a beleza alimentamos a alma.? Com os dizeres do escritor e poeta Rubem Alves, o significado da música – feita uma analogia com a beleza – pode e deve chegar não só aos ouvidos, mas também ao coração de todas as pessoas. Da simplicidade da vida a música popular transformou arte em cultura. E, diferente do que muitos pensam, da cultura popular se faz a música erudita. Com o objetivo de entender o por quê da música erudita não ter a mesma desenvoltura social que a música popular, a reportagem de O Estado esteve na ?Boca Maldita? (Rua das Flores), em Curitiba, conversando sobre música com o povo. Por meio de um disc-man, oferecemos aos cidadãos um fone de ouvido para que escutassem gravações de Bach, Brahm e Tchaikovski.

Para Inor Moraes Oliveira (26), profissional autônomo, a música erudita representou o avanço cultural da Europa séculos atrás. ?Acho que essa música contribuiu com todos os estilos, inclusive com a música brasileira?, disse, enquanto fazia a observação que na época a música não tinha o semitom (mi e si).

Surpresa e aproveitando do conhecimento recém-adquirido, dois passos à frente a reportagem ofereceu ao ex-professor Nélson, vulgo ?Oil Man?, o fone de ouvido com a Toccata e Fugue em D menor, de Bach. ?Ah, eu conheço isso, é Tchaikovski ou Bach??. Oil Man lembrou que o jovem em geral acha a música erudita ?careta? porque não a conhece. ?As escolas deveriam ensinar ao jovem o valor que a arte possui?, completou.

Professora opina

Segundo a presidente da Associação de Escolas de Música do Paraná, e professora do Centro de Educação Profissional Rosa Mística, Maria José de Abreu Guimarães, muitas vezes o preconceito afasta as pessoas da música erudita. ?Não temos que separar o erudito do clássico. Algumas pessoas que conhecem o erudito se julgam superiores em relação às outras. Esse tipo de coisa afasta o público?, declarou. Para ela, os professores têm de pensar em democratizar a música erudita, pois o público não pode deixar de gostar daquilo que nem mesmo conhece. Observando o passado pode-se lembrar que Villa Lobos fez músicas conhecidas e de sucesso baseado no folclore. Maria José ainda lembrou que Schubert fez ?lides? belíssimos com canções do povo, demonstrando seu nacionalismo. O tipo de música que agrada a cada um varia em gênero, época e das diversas influências que cada indivíduo absorve. Nem todos têm a oportunidade de conhecer as 37 sonatas de Beethoven, mas se uns preferem reggae e outros o rock, o importante é que todos tenham algum gosto pela música.

Richele Campos achou música de Tchaikovski triste.

Música fúnebre

Quando nosso disc-man tocava Tchaikovski, a estudante Richele Campos (17) achou a música um pouco fúnebre. ?Estou ficando triste? disse, confessando sua preferência por um som romântico. Quando oferecido a pessoas jovens, as música eruditas geraram opiniões engraçadas. Para Almir (de menor, apelido), a música de Bach se parecia com a música tema da família Adam?s. ?Prefiro um ?techno?, mas quando a música é boa eu viajo nela?, contou.

Em declaração feita a O Estado, recentemente, o ex-pianista e maestro João Carlos Martins disse: ?Desde José Maurício Nunes Garcia, no século XVIII, o músico clássico tem que ser um desbravador, tem que ser um diferencial de alfa para ômega. O que precisa ser feito é uma política governamental para se formar um público jovem?. Como a reportagem observou, não é só com divulgação que a música erudita se propagará pelo Brasil. Somente o tempo junto a uma melhor educação poderá nos dizer se nos aproximaremos do erudito, ou ficaremos por mais gerações fixados no popular.

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