‘Não Aceitamos Devoluções’ tenta adicionar humor ao cinema de lágrimas tradicional no México, a pátria (ou uma delas) do melodrama. Pelo visto, a fórmula risos + choro ainda dá, tanto assim que atraiu 18 milhões de espectadores no México e mais 5 milhões nos Estados Unidos.
A história é sobre um garanhão de Acapulco, Valentim (Eugenio Derbez, que também dirige o filme). Ele não deixa passar em branco sequer uma turista que se atreva a bronzear-se no balneário. Isso até que uma de suas ex-namoradas, norte-americana, regressa para lhe trazer um “presente” – um bebê, a filha de Valentim. E a moça some no mundo.
Em seguida, vemos o desajeitado Valentim, renunciando um pouco aos seus dotes de dom Juan, para botar o pé na estrada e reconduzir a criança à sua mãe, na Califórnia.
Há alguns clichês aí, como o do pai que se toma de amores pela filha a princípio indesejada, em especial quando ela cresce um pouco e se transforma numa menina adorável. A trama se embebe de outros ingredientes, tais como a relação crítica que sempre existe entre México e Estados Unidos, com sua fronteira imensa e vigiada, os imigrantes que se contam aos milhões, os preconceitos, etc.
Não por acaso, Valentim será um dublê da indústria cinematográfica, que se recusa a pronunciar uma única palavra em inglês. Já a filha, Maggie (Loreto Peralta), será perfeitamente bilíngue, o que não deixa de ser um comentário em subtexto sobre o relacionamento ideal entre os dois países.
Muito bem filmado, Não Aceitamos Devoluções vai deixando claro seu propósito de conquistar corações e mentes à força de emoção. Puxa a corda do melodrama de um lado e afrouxa com humor pelo outro. Derrapa aqui e ali, mas o carisma de Derbez, ótimo cômico, salva muita coisa. Outro tanto fica por conta de Loreto, uma dessas crianças carismáticas em nome das quais tudo se perdoa. Ou quase tudo. Não é filme para os mais exigentes. Mas é o que se poderia chamar de cinema popular de qualidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.