O longa “Namorados para Sempre”, de Derek Cianfrance, que chega hoje aos cinemas, é surpreendente. Apesar do título sugerindo romance água com açúcar (o original, “Blue Valentine”, é mais realista), o que mostra é o retrato intimista de um relacionamento em rápida desagregação.
Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) são casados e têm uma filha pequena. A história da dupla é mostrada em sucessivas idas e vindas no tempo, recordando como se conheceram, se apaixonaram e casaram. Nenhuma dessas etapas da história da formação do casal é idealizada. Cianfrance, de propósito, “suja” as imagens, sugerindo que todo relacionamento humano, em especial os mais viscerais, é sujeito a impurezas e imperfeições. Nem Cindy e nem Dean são exemplos de virtudes. Ao contrário. Humanos, falíveis, tentando apenas serem felizes e dar algum sentido à vida, não raro ferem um ao outro, quando não a si mesmos. Além disso, a filmagem e a própria maneira como os atores se comportam em cena apontam para uma instabilidade fundamental no relacionamento humano. Não que o casal seja condenado a se desfazer por algum tipo de falha trágica da espécie humana – embora isso seja pensável e defensável.
É pior: tudo é apenas circunstancial. Tão próximos foram, e agora parecem dois estranhos – quantas vezes essa frase vulgar já foi usada para descrever o fim de um relacionamento que parecia indestrutível? Não se trata de destino. São pequenas coisas, desavenças com a família de um ou de outro, desacordo quanto à criação dos filhos, ciúmes, atração um pouco acima do normal pelo álcool. Coisas assim.
Dessa fragilidade dos laços humanos nasce a triste beleza de “Namorados para Sempre”. São duas pessoas “normais”, que nada têm de românticos. Buscam o que todos querem: companhia num mundo de solitários, um pouco de afeto, outro tanto de prazer, solidariedade e amparo. Descobrem que mesmo esse pouco pode ser muito difícil de alcançar e, sobretudo, de manter. Não, definitivamente, “Blue Valentine” não é um grande presente para o Dia dos Namorados. Mas é um belo filme. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.