Para amigos e colaboradores, ele é só o Zé. O mineiro José Luiz Villamarim vive o que se pode considerar um momento excepcional – da vida e da carreira. Encerrou na sexta, 23, uma minissérie que mobilizou o imaginário do público e dos críticos. Justiça pode até nem ter sido unanimidade, mas colocou o povo na TV de uma forma como ele não se via há tempos – talvez desde a novela Avenida Brasil, que o Zé dirigiu, é bom lembrar. Mal se passou o fim de semana – para digerir o desfecho de Justiça – e, nesta terça, 27, ele estreia o seriado Nada Será como Antes.

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E, na semana que vem, começa o Festival do Rio, no qual, na Première Brasil, Villamarim vai celebrar sua aguardada estreia como diretor de cinema – com Redemoinho, que rodou na mítica Catagueses, solo sagrado no cinema brasileiro, onde Humberto Mauro iniciou sua obra pioneira.

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Justiça registrou números expressivos no fechamento. Em São Paulo, a média foi de 26 pontos, seis a mais que a faixa de junho/julho do horário. No Rio, foram 28 pontos, um incremento de cinco (ou 22%) na faixa. Zé está feliz com a experiência de Justiça, escrito por Manuela Dias. Está ansioso para ver como o público reagirá a Nada Será como Antes, texto de Guel Arraes e Jorge Furtado. O seriado de 12 capítulos será apresentado sempre às terças, até dezembro. O roteiro de Redemoinho é de George Moura e Zé retoma a parceria com o escritor de O Canto da Sereia, Amores Roubados e O Rebu. O repórter lembra o lendário John Huston, que defendia o não estilo e dizia se aproximar de todos os filmes com respeito aos roteiristas e às histórias que queria contar. “Sou assim. Sei que tenho uma assinatura, mas o que importa é a história e o desafio que cada obra impõe.”

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E ele começa revelando que, embora esteja estreando depois, Nada Será foi feito antes de Justiça. “Gravamos no fim do ano passado, até o começo deste ano. E começamos o Justiça em abril, no Recife. Durante todo esse processo, eu montava o Justiça, filmado em 2014. Foi bom ter todo esse tempo para a montagem. O filme maturou muito durante o processo.” Villamarim admite seus desafios – e influências. “O de Nada Será como Antes era fazer Guel (Arraes) sem o Guel. O seriado foi uma experiência nova para o Jorge (Furtado) e ele. Costumam trabalhar com comédia, aqui é o drama, de fundo mais romântico. Guel deixou claro que adoraria dirigir, mas não tinha tempo. Entrei com toda liberdade para conceitualizar. E fiz com gente com quem estou acostumado a trabalhar – o fotógrafo e diretor Walter Carvalho, as diretoras Luísa Lima e Isabella Teixeira.”

Nada Será como Antes é sobre os primórdios da TV, a passagem do rádio. É de época, enquanto Justiça é 100% contemporâneo. “O material da Manu (a escritora Manuela Dias) sinalizava para uma coisa documentária, meio irmãos Dardenne. Já havia a proposta dela de ambientar no Recife. Sou mineiro. Me apaixonei pelo prédio que virou nossa grande locação, o Edifício Holliday. E não mudei nada em termos de direção de arte. Usamos o mobiliários dos moradores, o que eu tenho a impressão que ressaltou a verdade. Já o Nada Será reconstrói um tempo, mas, na imaginação do Guel e do Jorge, o começo da televisão dialoga com o agora. A gente situa lá atrás para falar do presente, 50 anos depois. Então, tem de ter uma intervenção grande, e não apenas no aspecto visual.”

Justiça carregava no realismo, na urgência. Nada Será como Antes é cheio de temas sociais. O Brasil está de fundo o tempo todo, mas com liberdade poética. O seriado fala de celebridades, os ídolos do rádio, que viraram da TV. O casal Murilo Benício/Débora Fallabela. “Aqui tem um glamour, então a cena vem mais elaborada na sua construção. Estende-se o tempo, e a gente usa mais o plano-sequência.”

E Redemoinho? O longa baseia-se no romance O Mundo Inimigo, de Luiz Ruffato. É o segundo livro da série Inferno Provisório, composta de cinco volumes. Narra a história de dois amigos de infância, que se reencontram anos depois. Villamarim fala de uma diferença de método – “A TV trabalha num ritmo industrial, mais rápido, mas isso não pode ser um empecilho para se fazer obra de qualidade. Exige, talvez, mais dedicação, mais trabalho. Tem uma frase do (Pablo) Picasso que eu gosto muito : ‘Quando a sorte me encontrou, eu já vinha trabalhando muito’.

É o segredo – trabalho.” Irandhyr Santos, Júlio Andrade, Kássia Kiss Magro, Dira Paes estão no elenco. Villamarim é fascinado pelo que chama de bicho-ator. “É uma mistura de preparo e entrega. É gente doente, no melhor sentido. Todos se jogaram no filme, como os atores se jogaram em Justiça, e a Débora e Murilo, em Nada Será como Antes. É um privilégio trabalhar com gente tão apaixonada pelo que faz.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.