Nação Zumbi lança disco após sete anos sem inéditas

Onde quer que esteja Chico Science, deve estar orgulhoso dos rapazes da Nação Zumbi. Para além do debate do que é e se tornou o manguebeat na história, os rumos da banda recifense sempre estiveram em consonância com o espírito vanguardista de seu mentor. “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar” é o lema que segue dando sentido existencial para Jorge Du Peixe (vocais), Lucio Maia (guitarra), Pupillo (bateria), Dengue (baixo), Toca Ogan (percussão) e Gilmar Bola 8 (tambores) e o que guia os caminhos estéticos de Nação Zumbi, oitavo disco de estúdio do grupo.

Desta vez a transformação passa principalmente pela entrega à linguagem da canção, num apuramento harmônico jamais visto na história do sexteto. Fica até difícil cravar que se trata de um disco essencialmente de rock, ainda que o peso dos tambores e a guitarra rasgada de Lucio Maia cumpram este papel mais assertivo. “Já estão dizendo que é um disco pop”, lamenta Maia. “Não acho que façamos música pop. Tivemos uma preocupação melódica e rítmica de uma maneira muito mais bem resolvida. Muito mais do que nos outros trabalhos.”

Na visão de Pupillo, os inúmeros projetos paralelos tocados pelos integrantes são os responsáveis por oxigenar esta nova safra de composições. “Isso é reflexo deste processo, tentamos diluir as várias influências, seja o 3 na Massa, o Los Sebosos Postizos ou qualquer outro.” Neste apuramento em direção ao formato da canção, o maior beneficiado é Jorge Du Peixe, que pôde amplificar seus recursos vocais e aparece em grande jornada nas onze faixas do álbum. Um Sonho, balada de perfil romântico, é um dos melhores exemplos da versatilidade do homem de frente da Nação.

Contemplado pelo programa Natura Musical, o novo disco rompe com um hiato de sete anos sem lançar material inédito, desde Fome de Tudo. Neste intervalo, ainda coube o lançamento do DVD Ao Vivo em Recife (2012), que traz o registro do apoteótico show no Marco Zero, em dezembro de 2009.

Sempre requisitados, parte da banda ainda se tornou a estrutura musical do mais recente álbum e turnê de Marisa Monte, que percorreu o Brasil e outros países nos últimos dois anos. A proximidade e os elos criados com a diva da MPB permitiu arregimentá-la para a nova empreitada. Ela encarna uma sereia na extraordinária A Melhor Hora da Praia. “A participação dela foi uma forma de retribuir essa amizade”, afirma Pupillo. A gente conhece a Marisa há muito tempo, desde a mixagem do Da Lama ao Caos. Ela sempre foi muito fã dos Los Sebosos”, completa Lucio Maia.

Também fruto do círculo de amizades dos integrantes são Berna Ceppas e Kassin, que ficaram encarregados da produção do disco. Ter a dupla já era um desejo antigo e propiciou soluções musicais que extravasam o formato instrumental da banda. “O Fome de Tudo é um disco que não tem overdubs, diferente deste que resolvemos trabalhar com samples e elementos eletrônicos. Kassin e Berna foram fundamentais neste aspecto”, destaca Pupillo. Gravado no Rio, o álbum já tinha passado por uma pré-produção, a ponto de ter sido cogitado o lançamento há dois anos. O grupo preferiu dar uma pausa e abrir a agenda para projetos pessoais antes de finalizá-lo. Com o dinheiro da Natura, ele voltou a ganhar força, passou por uma segunda etapa de gravações e acabamentos até, enfim, ganhar as prateleiras.

A euforia com este novo rebento é tão impressionante que chega a parecer uma banda lançando seu disco de estreia. Tanto Pupillo quanto Lucio Maia, que conversaram com o Estado, não hesitam em dizer que se trata do melhor trabalho da Nação Zumbi. “Buscar coisas diferentes é uma importante característica nossa. Sempre procuramos isso. Não que reneguemos o passado, é uma questão de olhar pra frente, para o futuro. Principalmente quando a gente sobe no palco… Deve ser muito entediante, ao longo de 20 anos, ainda fazer o mesmo tipo de som. Para o público e para a banda. Gostamos de criar este frescor”, define o guitarrista.

Apesar do pé no futuro, o primeiro single de Nação Zumbi tem um olhar para o passado, fala sobre as marcas indissociáveis. Em certa medida, Cicatriz também é afirmação de um grupo que precisou se reerguer após a morte de Chico Science em 1997. “O acidente de Chico pra gente sempre vai ser uma perda, vai ter sempre uma tristeza. Mas ao mesmo tempo, a vida aconteceu dessa forma e a gente está aqui agora, entende? Então vamos celebrar a vida. É isso que ele gostaria que a gente fizesse”, afirma Lucio Maia. “O Chico é uma cicatriz que você lembra com alegria”, sintetiza Pupillo.

Atualmente, o grupo está numa turnê de divulgação do novo álbum que começou no Rio. Estão marcados para se apresentar em São Paulo no dia 11 de junho, na Audio Club, na véspera do início da Copa. A agenda ainda contempla cidades como Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. “Este disco tem grandes canções para o palco, provavelmente vamos tocar muitas coisas dele”, adianta Maia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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