Na flor da meia-idade

tv41.jpgLogo nos primeiros capítulos de América, Edson Celulari já começou a desconfiar que, por causa do Glauco, ainda apanharia nas ruas. Afinal, seu personagem na novela de Glória Perez não é nenhum modelo a ser seguido. Afinal, o sujeito é casado, tem uma amante há vários anos e ainda inicia um romance com a melhor amiga da própria filha. Mas, para surpresa do ator, além de não apanhar na rua, recebeu várias manifestações de apoio do público. ?Outro dia, estava no aeroporto com a Cláudia quando fui cercado por três senhoras. Cada uma torcia para uma personagem diferente. O curioso é que as três, por unanimidade, defendiam o Glauco. É como se ele fosse a vítima da história!?, espanta-se.

Longe de tecer julgamentos sobre a infidelidade do personagem, Edson admite uma certa predileção por tipos transgressores, que não se encaixam no estereótipo do galã heróico e virtuoso. Nessa linha, Glauco faria companhia a outros personagens ?moralmente incorretos? do ator, como o vingativo Raimundo Flamel, de Fera Ferida, e o desavergonhado Vadinho, de Dona Flor e seus dois maridos. Mesmo assim, o ator continua a arrancar suspiros do público feminino, que passou a chamá-lo de ?tio?. ?O papel do ator é seduzir o público.?

Aos 47 anos de idade e 27 de profissão, o poder de sedução de Edson Celulari atinge também os autores de novela. Quatro deles, Benedito Ruy Barbosa, Miguel Falabella, Sílvio de Abreu e Glória Perez, tentaram incluí-lo numa novela. Na dúvida sobre que convite aceitar, pediu ajuda à alta cúpula da Globo. Quem levou a melhor foi Glória Perez, com quem Edson já havia trabalhado em 1995, quando interpretou o político Júlio Falcão em Explode Coração. ?O que mais me encanta na Glória é a capacidade de abordar questões sociais sem deixar de lado os elementos típicos do folhetim?, sublinha.

P – Nos últimos dias, você tem levado cantada até de senhoras que passaram a chamá-lo de ?tio?. Você esperava que o Glauco pudesse fazer tanto sucesso?

R – Olha, desde a primeira vez que li a sinopse de América, vi o Glauco com muito bons olhos. Desde o início, percebi que ele tinha tudo para ser um grande personagem. Isso porque trata-se de um homem bem-sucedido financeiramente, que vive um casamento aparentemente perfeito, mas que possui uma inabilidade afetiva muito grande. Para piorar as coisas, ainda tem uma amante, que já está com ele há oito anos e não consegue se desvencilhar dela. A certa altura, esse homem ainda se envolve com uma garota de 18, 20 anos que, segundo a sinopse, vai modificar por completo a vida dele. Ou seja, logo percebi que tinha um ótimo material em mãos. Fiquei feliz por ter aceito o convite e mais feliz ainda por estar fazendo o Glauco.

P – Como está sendo a experiência de contracenar com uma atriz inexperiente como a Cléo Pires?

R – A Cléo emprestou um frescor único para a personagem. Essa menina tem um carisma muito forte. Um close dela é perturbador. Além disso, tem uma malícia no olhar, uma malícia ingênua, que só enriquece o trabalho. Lembro que, quando chegou na Globo, ela só fazia repetir: ?Olha, pessoal, estou chegando aqui sem muita responsabilidade. Quero ver apenas como é…?. Mas, pelo pouco tempo de convivência, eu seria capaz de jurar que ela já está gostando muito do que faz.

P – Com tantos tipos sedutores no currículo, não fica difícil encontrar nuances para interpretar mais um sem cair na mesmice?

R – Sou um ator que adora exercer o ofício. E quero poder exercê-lo plenamente. A diversificação faz parte do meu trabalho. Honestamente, não gostaria de fazer sempre o mesmo personagem. Reconheço que faço mais um tipo específico de arquétipo, que seria o do galã romântico, porque os autores sempre necessitam de galãs românticos em folhetins. Não tenho muito como fugir disso. Mas, ao longo da minha carreira, pude experimentar também personagens ótimos, como o Vadinho e o Mariel, que não eram necessariamente galãs. A diversificação me enriquece. E quero, como ator, poder provar de um todo, descobrir sempre um ângulo novo. Não quero ter o compromisso de fazer sempre a mesma coisa.

P – Os seus cabelos estão mais grisalhos que nunca. Aos 47 anos, como você lida com a idade? Ela chega a preocupá-lo?

R – De maneira nenhuma. Tento lidar com ela da melhor maneira possível. Procuro, inclusive, não sofrer por causa dela. Na verdade, prefiro pensar nas coisas boas que a idade me traz: a maturidade, um melhor entendimento das coisas, a paciência… Quanto aos cabelos grisalhos, é mais uma possibilidade de mutação que tenho a oferecer para os meus personagens. Recentemente, fiz o Ciccilo Matarazzo, de Um Só Coração, que me obrigou a ficar quase careca. E, em nenhum momento, me preocupei com a questão estética. Agora, se vou continuar grisalho, não decidi. Pode ser que, daqui a pouco, surja um personagem que me obrigue a pintá-los de amarelo. Tenho de estar disponível para as mutações que a minha profissão exige de mim. 

Tudo começou numa cantina de colégio

A paixão pela arte de representar surgiu quando Edson Celulari, ainda garoto, passou a ajudar o pai na cantina de um colégio em Bauru, no interior de São Paulo. Por uma dessas coincidências de novela, a cantina ficava a poucos metros do auditório. Resultado: sempre que o movimento diminuía, Edson acompanhava o corre-corre nas coxias do teatro. ?Na época, o difícil foi convencer o seu?Edno de que ele não teria mais um filho dentista ou engenheiro…?, brinca o ator, que chegou a pensar em ser jogador de futebol.

Certo do que queria, Edson logo mudou-se para São Paulo, onde foi estudar na Escola de Arte Dramática da USP. O primeiro trabalho na tevê, aliás, foi na extinta Tupi, quando fez uma ponta em Salário Mínimo, de Chico de Assis. Dois anos depois, estreou na Globo, de onde só saiu em 1988, para fazer O Chapadão do Bugre, na Band, e em 1990, para Brasileiras e Brasileiros, no SBT, ambas sob a direção de Walter Avancini. ?De forma alguma me arrependo de algo que tenha feito. Talvez me arrependa de não ter feito mais…?, avalia.

Romantismo desbragado

No último aniversário da mulher, a atriz Cláudia Raia, Edson Celulari organizou um jantar-surpresa em um dos restaurantes mais sofisticados do Rio. Convidou 40 amigos, decorou o lugar com girassóis e solicitou um cardápio especial. Cláudia Raia não fica atrás. No aniversário de dez anos de casados, Edson estava em Belém com a peça Fim do Jogo, quando Cláudia mandou espalhar, pelas ruas da cidade, dez faixas com dizeres amorosos. No caminho até o palco, pétalas e mais pétalas de rosas…

Juntos há 12 anos, Edson e Cláudia acreditam que um dos segredos para o casamento não cair na rotina é manter viva a condição de amantes.    

Eles se conheceram numa novela de Sílvio de Abreu: Sassaricando, de 87. Nela, interpretavam os irmãos Jorge Miguel e Tancinha. Já em Deus nos Acuda, fizeram namorados: Ricardo Bismark e Maria Escandalosa.

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