O tema da sétima mesa da Festa Literária Internacional de Paraty, na tarde desta sexta-feira, 3, era São Paulo, Comoção da Minha Vida, mas os palestrantes Roberto Pompeu de Toledo e Carlos Augusto Calil não dissociaram a história da capital paulista da trajetória do homenageado da Flip deste ano: o escritor Mário de Andrade. “Afinal, ele foi, na definição de Paulo Prado, o único entre os modernistas a se realizar como um intelectual europeu”, comentou Calil, que organizou, ao lado de Flávio Rodrigo Santiago, o livro Me Esqueci Completamente de Mim, Sou um Departamento de Cultura (Imprensa Oficial do Estado de SP), que reúne documentos que marcaram a passagem de Mário na administração pública.

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Segundo Calil, o escritor foi pioneiro ao aplicar, como gestor, a ideia de uma educação totalizante, ou seja, que não se resumia à cultura, mas também unisse o esporte, a ecologia e outras modalidades na formação dos jovens. “Ele certamente foi o primeiro no Brasil a exercer essa função e provavelmente primeiro também no mundo”, afirmou.

Já Roberto Pompeu, autor de A Capital da Vertigem (Objetiva), que narra a história de São Paulo entre 1900 e 1954, apontou para uma descoberta incluída no livro: a de que Paulo Prado, milionário que financiava as ações culturais daqueles que se tornariam modernistas, foi responsável pela famosa vaia que ecoou no Teatro Municipal de São Paulo durante a Semana de Arte Moderna de 1922. “Ele sabia que somente reações negativas como essa é que davam status àquele momento de ruptura”, disse. “A consagração só viria com a oposição do público, caso contrário, a Semana ficaria restrita aos seus participantes.”

Os dois autores apontaram também a relação de amor e desprezo que marcou a amizade de Mário com Oswald de Andrade. O autor de O Rei da Vela era um homem sedutor, divertido e, muitas vezes, rompia relações fraternas graças aos comentários maldosos – foi o que aconteceu quando Mário deixou de falar com ele, decisão que não revogou até o fim da vida, em 1945. “Além disso, Oswald levou para o túmulo a frustração de não ter escrito Macunaíma, a mais importante obra antropofágica do Modernismo”, disse Calil.

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Homem de múltiplos talentos, renascentista, Mário de Andrade foi motivo também de uma brincadeira provocada por uma pergunta da plateia, que questionava os palestrantes sobre o que diria o escritor a respeito dos livros para colorir, atual febre editorial. “Acho que ele daria para (as pintoras) Anita Malfati ou Tarsila do Amaral colorirem”, brincou Pompeu. “Talvez ele julgasse ser o processo de conquista de uma nova espiritualidade”, sustentou Calil.