Para ela, não existia melhor maneira de voltar a trabalhar na Globo, já que estava longe da emissora desde 1996, quando integrou o elenco de Quem é você? "Quanto maior o conflito do personagem, melhor para mim", justifica. Mesmo com tanta "contradição", Mylla conta que o retorno do público é melhor do que esperava. A atriz nunca foi abordada de maneira agressiva e, na maioria das vezes, recebe elogios pelo seu desempenho. "Isso é positivo. Sinal de que as pessoas já sabem diferenciar a vida da ficção", argumenta. Na sua visão, isso também demonstra a diminuição do preconceito do povo em relação aos casais gays.
As cenas em que Eleonora e Jennifer, personagem de Bárbara Borges, mostram o seu "affair" não são apelativas. Muito pelo contrário. A intimidade entre as duas ocorre basicamente através de "longos" abraços e troca de olhares. Mas é só o autor Aguinaldo Silva apimentar a relação das lésbicas que o retorno do ibope é garantido. O capítulo em que elas acordaram juntas e seminuas, numa cama de casal, teve média de 52 pontos, com pico de 56. E Mylla encara com muita naturalidade o chamado "amor entre iguais". "Não existe dificuldade porque interpretamos duas pessoas normais que se gostam", argumenta.
Outra facilidade para a atriz é contracenar com Bárbara, que já virou sua companheira na hora de bater os textos. Para não fazer feio no momento de "encarnar" o romance, as duas trocam idéias para atuarem em sintonia. "Bárbara é muito compreensiva. É sempre bom ter um ambiente de trabalho tranqüilo e de paz", elogia. Mylla também considera importante o fato de os pais da ficção aceitarem o relacionamento homossexual. Claro que o respeito não foi conquistado de "mão beijada", até porque Eleonora teve uma discussão homérica com Sebastião, vivido por Nelson Xavier. Mas, para ela, isso é um bom exemplo para as famílias que possuem parentes na mesma situação. "Não pretendo levantar bandeiras, nem participar de movimentos. Mas isso é uma maneira de mostrar que existem preconceitos", discursa.
Além de enfrentar o "preconceito" sexual, Mylla vai mostrar a dificuldade dos casais homossexuais para adotarem um filho. Na trama, a médica encontra uma criança negra na lata de lixo. Segundo a atriz, essa é a verdadeira "polêmica" da trama, onde o autor questiona: O que é melhor para uma criança? Ser abandonada ou ser criada por duas mães? "É uma questão familiar. O público vai se emocionar com o amor de uma ?mãe? adotando uma criança", assegura. A atriz garante não encarar o tema como tabu. Na sua opinião, todo mundo deve ter liberdade de escolha e de comportamento.
Para fazer Eleonora, Mylla teve também de mudar o visual. Seguindo recomendações do diretor Wolf Maia, a atriz trocou as longas madeixas escuras por um corte de cabelo curto e, pela primeira vez, louro. De acordo com Mylla, a mudança, além de ter causado impacto, lhe ajudou a compor a personagem. "Na hora que me olhei no espelho, já construí a Eleonora", revela.
Mylla se identifica com muitas características de seu papel. Ela encara o trabalho com a mesma responsabilidade e seriedade de Eleonora. Embora interprete uma médica, a atriz assegura que não teria "sangue" para agüentar a rotina de um hospital. "Sou mais emoção do que razão", diz, esboçando um sorriso tímido. Para desenvolver bem seu trabalho, Mylla conta com uma ajuda "especializada". Como Wolf também é médico, a atriz revela que o diretor sempre lhe dá dicas para incorporar a ortopedista. "Ele tem muito mais conhecimento e propriedade nessa área do que eu", valoriza a atriz que, durante um ano, bateu à porta do diretor para conseguir integrar o elenco de Senhora do Destino.