Em seu livro “Zorro: Começa a Lenda” (Bertrand Brasil), a escritora chilena Isabel Allende não esconde admiração pelo homem de espírito indomável, “um herói popular, romântico, cômico, atlético, em luta pela justiça, com traços de Robin Hood e, em parte, de Peter Pan e Che Guevara”. O Zorro vivido pelo ator Bruno Fagundes, no entanto, é disfarce para um rapaz frágil, carregado de dúvidas e cuja máscara liberta seus sentimentos mais valentes. “Quero mostrar uma crise de identidade e expor sua vulnerabilidade”, explica. “Com isso, penso em discutir o que é a masculinidade nesse século 21.”

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Intérprete de raro talento, Fagundes é o protagonista de “Zorro, Nasce uma Lenda”, musical que estreia na sexta-feira, 2, no 033 Rooftop do Teatro Santander, espaço nada convencional, em que a encenação rodeia o público, acomodado em mesas e cadeiras. Inspirada em “Zorro, o Musical”, que estreou em Londres em 2008 com canções do grupo Gipsy Kings e John Cameron, a montagem nacional une drama com efeitos especiais. “Nosso espetáculo mostra o rito de passagem de um garoto para a maturidade, quando assume a defesa de seu povo”, comenta o diretor Ulysses Cruz.

De fato, a peça conta a história de Don Diego de La Vega, jovem membro da aristocracia californiana em meados do século 19, durante a era do domínio mexicano. Após longo período de estudos na Europa, Diego volta a Califórnia e assume a identidade secreta de Zorro, um herói idealista e mascarado que luta pela liberdade de seu povo. Criado em 1919 pelo escritor norte-americano Johnston McCulley, o personagem possui uma das trajetórias mais contadas do universo pop, entre quadrinhos, filmes e produções teatrais.

“É uma trama que continua atual por mostrar os desmandos do poder”, observa o ator e apresentador Marcos Mion, que estreia em um musical no papel de Ramon, irmão ressentido de Diego – por ter sido sempre preterido pelo pai, ele desenvolve uma mágoa profunda, a ponto de mantê-lo secretamente preso para assumir o comando do povoado. “É um vilão, mas seus sentimentos são justificáveis”, continua.

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Uma das medidas de Ramon está em forçar o casamento com Luisa, moça apaixonada por Diego. A dramaticidade pelo fato de estar no centro de uma disputa fraterna torna o papel um desafio para a jovem Nicole Rosemberg, que foi um dos destaques do programa de TV Cultura, o Musical. “Ela contesta o poder masculino, ainda que respeitando o limite da época”, comenta Nicole, ressaltando uma das qualidades da história escrita por Isabel Allende, na qual o musical é inspirado. Mas, se o livro termina quando Diego decide se converter no justiceiro mascarado, a peça vai além, acompanhando sua luta contra Ramon.

“E esse rito de passagem é muito marcado pela minha personagem, a cigana Inez, que ajuda a criar o herói”, comenta Leticia Spiller. “Gosto de Inez por ser mística e mítica e por acreditar na força feminina.” Do grupo de 17 atores, Leticia era uma das poucas a ter familiaridade com a música flamenca, que dá o tom ao espetáculo. Afinal, ela é casada com o violonista uruguaio Pablo Vares, que tem intimidade com o ritmo e, por isso, faz parte da banda de nove músicos.

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É o flamenco que dá o tom à peça, ambientada em dois espaços, um Tablado e uma Taberna Gitana, onde os espectadores poderão comprar vinho e as conhecidas tapas espanholas. “O foco está na história, que também é narrada pelas canções”, explica Cruz, que moldou o espetáculo em 1h40 de duração, sem intervalo. Isso para manter o foco na narrativa. “Como o elenco estará cercado de espectadores, em nenhum momento ninguém poderá se desligar da história.”

E a dramaticidade é o ponto forte do flamenco, cujos passos percussivos se completam com movimentos de mãos e quadris. “É um ritmo muito teatral”, conta o diretor musical Carlos Bauzys que, aqui, mescla o tradicional com rock. “Modernizei as partituras do Gipsy Kings e as adaptei a guitarras elétricas.” A experiência poderá ser provada pelo público que, uma hora antes do início da peça, poderá ir ao camarim do elenco (formado ainda por Javier Rodriguez, André Odin, Talita Real, Luana Zenun, André Torquato, Maysa Mundim, Daniel Cabral, Mari Saraiva, Ygor Zago, Carol Isolani, Lucas Nunes, Demetrio Sanches e Jef de Lima), além de receber uma aula básica de flamenco. “Uma imersão para entrar no clima da história”, explica a produtora e coreógrafa Bárbara Guerra, que vai montar Donna Summer, o Musical em 2020. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

ZORRO – NASCE UMA LENDA
033 Rooftop. Teatro Santander. Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041. 6ª, 21h; sáb., 17h e 21h; dom., 16h e 20h. R$ 220. Até 3/11