Retiro estas frases da matéria publicada aqui em O Estado em 5 de janeiro: “Mais da metade da população brasileira (51%) está acima de seu peso ideal. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) – realizada em todas as regiões do País com 2.179 pessoas – revela um dado ainda mais preocupante: entre as pessoas de 18 a 25 anos, esse índice é de 66%. (…) De acordo com o levantamento, apenas 38% dos entrevistados afirmam praticar atividades físicas e 20% utilizam algum tipo de droga como álcool ou cigarro. As conseqüências também podem ser medidas: 58% das 2.179 pessoas apresentam algum problema de saúde”.

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As notícias, claro, são alarmantes. O aumento no número de pessoas obesas preocupa as autoridades de saúde, pois há mais pessoas com riscos de diabetes, pressão alta, problemas cardíacos e doenças afins. Por isso, muitos especialistas já afirmam que a obesidade é um problema de saúde pública, que precisaria ser tratado pelos governos como uma epidemia.

Mas há um setor da sociedade que não deve preocupar os médicos – o setor artístico. Mais precisamente, a música. Afinal, quantos gordinhos e gordinhas estão fazendo sucesso na dita Música Popular Brasileira?

Atualmente, pode-se contar nos dedos da mão os artistas de sucesso que estão acima do peso. Bem acima, por sinal, estão os irmãos César Menotti e Fabiano, os cantores sertanejos da “moda”. Eles estão fazendo shows por todo o País – no sábado, fizeram uma concorrida apresentação em Curitiba. Eles não têm a menor vergonha de serem gordos, muito pelo contrário. Fazem brincadeiras sobre o assunto e não se preocupam com as opiniões contrárias.

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Outra que não está nem aí para possíveis críticas é Alcione. Quando começou a carreira, a Marrom era magrinha, mas foi ganhando quilos ao mesmo tempo em que acumulava sucessos. Hoje, como principal cantora de samba popular do País, ela não tem maiores preocupações com a balança, e sim com o repertório – tanto que canta “você é um negão de tirar o chapéu” como se fosse uma sílfide, e os fãs adoram.

Outros exemplos? Paula Lima? Será que ela está acima do peso ou é uma diva moderna? Ed Motta? Certamente, mas não podemos dizer que ele é um artista popular. “E aquele rapaz do Exaltasamba?”, pergunta o editor de O Estado Lawrence Manoel. Ele falava do Péricles, o rechonchudo vocalista da banda de pagode. Também tem a Vanessa Jackson, a Eliana de Lima. Ah, e o Agnaldo Timóteo. Hoje, para o gosto popular ou da crítica, todos artistas de segundo time.

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(Milton Nascimento é um caso à parte. Suas perdas e ganhos de peso têm relação direta com seus problemas de saúde.)
Enquanto isso, cantores e cantoras de todas as vertentes se esforçam para emagrecer – os homens querem ficar musculosos, as mulheres curvilíneas e sensuais. Os gordinhos sertanejos Leonardo, Daniel, Luciano e Bruno hoje se mostram em forma com seus trajes justos. Erasmo Carlos, que em determinado momento da carreira aumentou de peso, hoje está magérrimo. Até Roberto Carlos é elogiado por estar “marombado”. Cláudia Leitte, morena e gordinha, hoje é loira e “musa do axé”. E a funkeira Tati Quebra-Barraco faz cirurgias de lipoaspiração regulares e chegou a retirar duas costelas para “afinar”.

O modelo de artista nasceu na Bahia e não se furta em proclamar autoelogios. Ivete Sangalo é o estereótipo da MPB, pelo menos no que diz respeito à forma física. Desde seu início, na Banda Eva, chegando até o atual estágio (como a maior vendedora de discos do País), Ivete se esforçou para ser reconhecida como cantora e como mulher bonita. Ela conseguiu, e está fazendo propaganda disto. “Eu não sou gostosa”, afirmou em Natal, domingo pa,ssado, com um corpete que valorizava suas curvas e explorava os seios aumentados com silicone.

Enquanto isto, a capacidade do artista fica em segundo plano. Hoje, no Brasil, é possível que o talento de um Luciano Pavarotti tivesse que passar por “assessores de imagem”, que certamente sugeririam para ele um regime para conseguir emplacar editoriais de moda e participações em programas de TV na praia. Salvo honrosas exceções, não há lugar na música brasileira para idosos e obesos.

cristiantoledo@oestadodoparana.com.br