O Museu Nacional de Belas Artes quer expor ao público ainda este ano as 18 obras de arte apreendidas pela Receita Federal na alfândega do Porto do Rio. Entre os quadros e esculturas, avaliados em R$ 10 milhões no total, há trabalhos de artistas brasileiros, como OsGemeos e Jorge Eduardo Guinle Filho, e também estrangeiros, como Anish Kapoor e Antony Gormley. Os quadros e esculturas foram descobertos por agentes da Receita dentro de contêineres provenientes dos EUA.
As obras vinham misturadas às mudanças de brasileiros que estavam voltando ao País. Segundo a Receita, alguns eram cooptados nos EUA para declararem quadros, esculturas e também outras mercadorias como parte de sua bagagem, que é isenta de tributos.
Na mudança de uma manicure brasileira, que morou por 21 anos nos EUA, foram encontradas as duas peças mais caras: uma do brasileiro Sergio Camargo, avaliada em US$ 2 milhões, e a outra do indiano/britânico Anish Kapoor. Avaliada em US$ 1 milhão, a obra veio declarada como “antena parabólica”, no contêiner.
Também houve casos, segundo a Receita, em que o viajante tinha bens inseridos na bagagem sem tomar conhecimento. Ao Fantástico, da TV Globo, a manicure afirmou não saber que as esculturas estavam no contêiner que trazia sua mudança de volta ao Brasil.
Questionada desde a manhã dessa segunda-feira, 30, pelo jornal O Estado de S.Paulo, a Receita Federal não informou as identidades de quem estaria por trás dos contrabandos e se tratava-se de um grupo organizado. Esclareceu somente que as obras foram “adquiridas em leilões e galerias internacionais” e que “está investigando, além da sonegação fiscal, a possibilidade de ocorrência do crime de lavagem de dinheiro”. Além das obras de arte, foram apreendidas também 17 toneladas de mercadorias como móveis, eletrodomésticos e equipamentos esportivos.
Exposição
As 18 obras estão em processo de doação para o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no centro do Rio. “Esperamos que o processo seja concluído até o fim de julho. Ainda este ano, nossa ideia é fazer uma exposição provisória com as peças, todas juntas, que depois serão incorporadas ao nosso circuito expositivo permanente”, disse a diretora do MNBA, Monica Xexéo. “É um conjunto pequeno, mas extremamente expressivo, de extrema relevância nacional e internacional.”
Há trabalhos de sete brasileiros: além de Sergio Camargo, OsGemeos e Jorge Guinle, Juarez Machado, Beatriz Milhazes, Daniel Senise e Cildo Meireles. Os artistas estrangeiros são, além de Kapoor e Gormley, o chileno Ivan Navarro, os franceses François-Xavier Lalanne e Niki de Saint Phalle, o colombiano Edgar Negret, o argentino Miguel Angel Rios, o italiano Michelangelo Pistoletto, a norte-americana Barbara Kruger, o húngaro Victor Vasarely e o escocês Callum Innes. Em setembro, chamados pela Receita, museólogos e historiadores do MNBA fizeram a primeira vistoria às obras encontradas nos contêineres; constatada a autenticidade das peças, elas foram encaminhadas em 30 de abril ao museu para serem mais bem armazenadas.
“Pela primeira vez, uma peça do Anish Kapoor, por exemplo, será exposta ao público como patrimônio do governo brasileiro”, disse a coordenadora técnica do MNBA, uma das responsáveis por inspecionar as obras logo que descobertas no Porto, Daniela Matera. Não é a primeira vez que uma obra apreendida pela Receita é doada ao MNBA. Em 2006, após ser apreendida no Porto de Santos, a tela “O Caçador de Passarinhos”, de Cândido Portinari, passou a integrar a exposição do museu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.