Até o final do ano, o Museu Paranaense deve mudar de lugar pela sexta vez desde que foi inaugurado, há exatos 126 anos. A instituição vai deixar o prédio do antigo Paço Municipal, na Praça Generoso Marques, em Curitiba, onde estava desde 1973, para ocupar o Palácio São Francisco, na Rua Kellers, que antes abrigava o Museu de Arte do Paraná e a TV Educativa. O prédio está sendo totalmente recuperado. Deve ficar pronto no mês que vem. A inauguração está prevista para o dia 19 de dezembro.
Para marcar o aniversário de fundação do primeiro museu do Paraná, a Secretaria de Estado da Cultura abriu ontem uma exposição para mostrar o projeto da nova sede, que está recebendo investimentos de R$ 5 milhões. Até o dia 15 de outubro, os visitantes vão poder conhecer os projetos arquitetônico e museográfico do novo museu, em painéis expostos no hall da secretaria, em Curitiba. Uma simulação tridimensional mostra como vai ficar o novo espaço.
Com a reforma, o Palácio São Francisco terá 2,6 mil metros quadrados de área construída, mais um anexo de 1,5 mil metros quadrados, totalizando uma área três vezes maior que os 1.895 metros quadrados ocupados hoje pela instituição. “Além disso, o prédio do Paço Municipal precisa ser restaurado, e não atendia mais às necessidades do museu, pois não permitia a sua expansão”, explica a secretária Monica Rischbieter, por meio de sua assessoria.
Segundo a secretaria, o novo prédio vai permitir ampliar o circuito de mostras, instalar áreas para reserva técnica, curadoria e para a manutenção e preparação de exposições, gabinetes próprios para os pesquisadores e documentação, sala climatizada com possibilidade de expansão, laboratórios de arqueologia, etnologia, numismática e educação, e até um café. “Uma de nossas preocupações foi dar uma sede definitiva para esse importante museu”, afirma Monica Rischbieter.
O Museu Paranaense possui um acervo total de mais de 320 mil objetos e documentos, compreendendo as áreas de arqueologia, etnologia, história e biblioteca. São curiosidades artísticas, quadros, numismática, armas nacionais brancas e de fogo, armas estrangeiras, objetos usados pelo caboclo e objetos estrangeiros, peças e livros.
Informatizando
A Secretaria de Estado da Cultura também apresentou ontem o projeto Cadastro de Controle de Acervos, desenvolvido em conjunto entre o Museu Paranaense e a Companhia de Informática do Paraná (Celepar) para implantar um sistema informatizado de cadastro, controle e pesquisa de acervo.
O objetivo do projeto é a criação de um sistema que possibilite o registro e a catalogação informatizada, permitindo o armazenamento, atualização e revisão dos dados, emissão de relatórios, facilitando consultas e pesquisas. A previsão é que o sistema seja implantado na nova sede do museu. “O projeto representa um grande avanço para o museu e poderá ser modelo para outras instituições”, diz o diretor do museu, Jayme Cardoso.
Serviço
– A Secretaria de Estado da Cultura fica na Rua Ébano Pereira, 240. Visitação de segunda-feira a sexta-feira, das 12h30 às 19h.Mudança não é unanimidade
Luigi Poniwass
Mas nem todos aplaudem a mudança. Clarete Maganhotto, presidente do Conselho Regional de Museologia (Corem), por exemplo, diz lastimar a transferência, “pois o prédio da Generoso Marques tem uma arquitetura museológica clássica”. “Não teremos como recuperar essa preciosidade, mas isso implica em decisões do governo e da Prefeitura, que têm entendimentos sobre os quais não opinamos.”
Diante do caráter irreversível da iniciativa, porém, Clarete se resigna: “Esperamos que esta mudança seja definitiva e bem feita, e quem for administrar saiba o que esteja fazendo e tenha cuidado, para que o museu não pereça novamente”.
Informada da infra-estrutura e das vantagens da nova sede, anunciadas pelo governo do Estado, Clarete pondera: “Se tudo isso for verdade, se for um trabalho bem feito, creio que o Museu Paranaense só tem a ganhar. E isso supriria o sentimento de perda pelo outro prédio”. E completa: “Mas também é preciso bons projetos de administração e de atendimento ao público, uma das deficiências do Museu Paranaense hoje. Ele é meio parado, precisa de mais criatividade e dinamismo nos projetos de ação cultural. Para isso, precisa ser tocado por especialistas”.
Outro que não está muito satisfeito com a transferência é o professor Maury Rodrigues da Cruz, que dirigiu o Museu Paranaense de 1987 a 1994. “Não conheço o projeto, nem sei como vai ser a nova sede, mas acho que o prédio atual do Museu Paranaense é ele próprio um museu. Seria importante que fosse preservado a título de museologia. Além disso, ele é conhecido mundialmente como o prédio do Museu Paranaense”. Mas ele admite que o museu “tem que crescer, merece um foro maior de pesquisa e uma resposta técnica com uma infra-estrutura mais adequada”.
