O Museu Oscar Niemeyer abre nesta terça-feira (30), às 19h, para jornalistas e convidados a exposição ?Cícero Dias – Oito Décadas de Pintura? que estará à disposição do público para visitação até setembro. A mostra, composta de aproximadamente 200 obras, faz uma retrospectiva da obra completa do pintor pernambucano Cícero Dias (1907-2003). Esta é seguramente a maior e a mais abrangente que já se fez do artista com obras selecionadas nas oito décadas de sua produção, revelando toda a trajetória da produção do pintor, que viveu em Paris de 1937 a 2003, quando faleceu.
Entre as obras exibidas está desde o primeiro quadro pintado pelo artista aos 14 anos, datado de 1921, até as últimas produções da década de 90. A mostra reúne obras de colecionadores particulares e museus, no Brasil e no exterior. ?Há uma série de obras de grande importância, oriundas de coleções brasileiras e francesas, muitas delas inéditas no Brasil, como a obra que Cícero Dias trocou com Picasso, em 1940, chamada ?Distante?, da coleção particular do filho do pintor espanhol, Claude Picasso?, afirma o curador e organizador da mostra em Curitiba, Waldir Simões de Assis Filho.
A mostra foi organizada com o apoio do Comitê Cícero Dias, criado após a morte do artista, integrado pela viúva do pintor, a francesa Raymonde Dias, a filha Sylvia, o colecionador Jean Boghici, um grande conhecedor da obra de Cícero, e o curador desta mostra. A viúva e a filha do artista já estão em Curitiba para participar da abertura da exposição.
Com os esforços somados, além de trabalhos inéditos, a exposição também exibe a obra considerada a mais emblemática da produção de Cícero Dias, o mural ?Eu Vi o Mundo…, ele Começava no Recife?, de 2m x 12m, pintado no auge do modernismo brasileiro entre 1926 e 1928. Destacam-se ainda a apresentação dos painéis da fase abstrata que compõem as paredes da sala de jantar da casa do artista, em Paris, removidos e trazidos para Curitiba, e os dois grandes painéis, de 6m x 4,5m, que ilustram as revoluções libertárias pernambucanas e o martírio de Frei Caneca.
As fases
?A exposição é organizada em módulos representativos de cada um dos períodos, desde o seu início, na década de 20, até a década de 90. Convém lembrar que, principalmente a partir da década de 50, as soluções plásticas adotadas por Cícero Dias em algumas fases não são estanques e exclusivas delas: expandem-se e prolongam-se em outras fases?, ressalta o curador. Parte das obras retrata o período modernista, entre os anos 20 e 30, e passam pelas fases subseqüentes dos anos 40, englobando o período de Lisboa, a série Vegetal e o início da desconstrução da forma que vai desaguar na abstração, a partir dos anos 50.
As obras do final da década de 30 até os anos 40 compreendem o período figurativo de Cícero Dias. Ele se dedicou ao gênero desde a sua chegada em Paris, em 1937, depois em Lisboa, entre 1943 e 1945, período em que viveu em Portugal devido a Segunda Guerra Mundial. ?O período de Lisboa é uma linha de passagem do artista, onde gradativamente vai deixando a figura ?na busca de uma essência mais abstraída- para criar nesse período a Série Vegetal? afirma o curador.
A fase dos anos 50 demonstra o período em que Cícero Dias se envolveu com o grupo Espace e a Ècolè de Paris, integrado por artistas de várias nacionalidades que, como ele, tornaram-se exclusivos da Galerie Denise René. A produção do artista neste período é notadamente composta por obras abstratas. Já no final dos anos 50, simultaneamente com a produção abstrata, começaram a surgir algumas obras figurativas impregnadas de lirismo, onde as temáticas evocam com saudosismo as cenas pernambucanas, chamadas de ?Figuração Lírica?.
Extremamente envolvido com a arte abstrata, Cícero produz nos anos 60 uma pequena série de obras abstratas informais. Segundo o curador, nessa série Cícero utiliza como linguagem a abstração informal, jogando nas telas com o contraste da luz e da sombra. A paleta torna-se mais suave. Esta série é chamada de Entropia. Após esse curto período, o pintor voltou a concentrar a sua produção na figuração, que nunca mais abandonou. ?Entre os anos 70 e 90 há a consolidação dessa nova figuração. Nela há a interação das formas geométricas e figurativas, surgindo uma pintura figurativa mais estruturada e complexa?, explica o curador. Os dois grandes painéis, de 6m x 4,5m, que ilustram as revoluções libertárias pernambucanas e o martírio de Frei Caneca, representam a produção mais marcante desse período.