Um dos mais importantes espaços culturais da cidade, o Museu Histórico Celso Formighieri Sperança, comemora nesta terça-feira, 30 anos de fundação. Hoje, devido ao número considerável de peças doadas nas últimas três décadas, o museu guarda o maior acervo retrospectivo de Cascavel. Criado em 26 de setembro de 1976, por iniciativa do professor Alexandre Câmpara, o espaço ? hoje localizado junto ao Centro Cultural Gilberto Mayer ? sempre esteve ligado à imagem da cidade como uma particularidade da história local. Para lembrar a data será lançado na próxima semana um Selo Comemorativo.

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Segundo o secretário da Cultura, Julio Cesar Fernandes, o museu concebe uma potencialidade histórica através do acervo. ?Este arsenal complementa a biografia do município. É dada a possibilidade de se apresentar e se confirmar o perfil do oeste do Paraná através dos instrumentos deixados pelos colonizadores da região, guardados com zelo pelo museu, e pela história oral, conquistada através do catálogo dos pioneiros?, explica ele.

Com visitação de segunda a sexta-feira, das 12h30 às 18h30, o museu recebe uma média de 50 visitantes mensais. Cerca de 43 mil pessoas foram atendidas pelo museu no primeiro semestre deste ano, sendo que maio foi o mês de maior número de visitação e atendimento (40.126 pessoas) devido à exposição de peças no Centro de Convenções e Eventos de Cascavel, durante a Fenarc 2006.

Acervo

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Inaugurado com 90 objetos, o museu conta hoje com cerca 1.600 peças, que servem de auxílio a pesquisas e enriquecimento cultural. Para a gerente da Divisão de Patrimônio Cultural, Íris de Oliveira, o número de peças pertencentes ao museu é pequeno se analisado à idade da cidade e número de habitantes. ?Não são todas as peças que ficam em exposição, pois algumas são repetidas enquanto outras estão em mal-estado. Apesar disso, é ali que se encontra o maior arsenal para pesquisas de época?, lembra.

Considerando que o município teve uma colonização recente, o vice-prefeito e historiador, Vander Piaia, explica o porquê do Museu Histórico não possuir um acervo tão consistente. ?Todo o material que temos faz parte da segunda fase histórica, datada pós-1945, na qual as famílias não possuíam muitos recursos nem se preocupavam em guardá-los. Eles não tiveram 50 anos para se desenvolver. Pelo contrário, fizeram a cidade crescer em pouco mais de três décadas, o que indica ter que dispensar velharias para acompanhar a evolução da cidade. Se mais tarde houve pouca doação ao museu, é devido a isto?, ressalta.

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Piaia ainda explica que boa parte dos pioneiros chegou à região carregando um passado ingrato e o que se esclarece o repúdio por aquelas lembranças. ?Pensavam em construir um presente melhor e um futuro próspero, por isso não valorizavam os materiais que os remetessem ao passado?, complementa.

Espaço de doações

Segundo a filha do fundador do museu e pesquisadora, Regina Sperança, a colaboração que os pioneiros deram a Cascavel ao fundar espaços como o Museu Histórico são significativos. ?A idéia era possibilitar que a história não fosse extinguida. Desde o princípio, a família Sperança teve a intenção de passar a importância da conservação das peças para os pioneiros. A cada visita que fazíamos a eles, algum material já era coletado e assim fomos conquistando todo o acervo?, cita.

O pioneiro Antônio Cid fez a doação de uma máquina de escrever utilizada na década de 50 pela primeira escola de datilografia de Cascavel e, na visão dele, a ação permitiu que a peça permanecesse em bom estado por mais tempo. ?Achamos melhor doá-la logo nos primeiros anos de desuso?, relata. ?Se o museu não existisse, com o tempo ela acabaria no lixo?.

Para Íris de Oliveira, a conservação do patrimônio é algo meticuloso. ?A maior parte do acervo foi doada já em estado deplorável. Com o tempo, a tendência é haver um desgaste ainda maior. Fazemos o possível para mantê-las nas condições apropriadas?, conta ela.

Cobras no museu

Houve um período em que o museu fez maior sucesso. A pesquisadora Regina Sperança, autora de quase uma dezena de livros sobre Cascavel, divulga que o Museu Histórico criava cobras cascavel em cativeiro para o Instituto Butantan, uma invenção ousada. ?Em homenagem ao nome da cidade e em função do grande número de vítimas de picadas das cobras na região, o professor Câmpara, com a ajuda dos outros fundadores, resolveu investir nos antídotos: as próprias cobras?.

Regina ainda lembra que os répteis foram a atração do museu por muitos anos e que a cidade só extinguiu a idéia por falta de espaço apropriado. ?O maior público eram os estudantes. No início, todos achavam que seria impossível criar esses animais em cativeiro, mas apoiaram a idéia por algum tempo. Este certamente seria um trabalho importante até os dias atuais?, indica.

Lembranças

Íris de Oliveira revela que alguns pioneiros visitam o estabelecimento à procura de antigas lembranças. ?Aqui se é possível ter acesso às diferentes épocas e aspectos históricos do município. São utensílios usados por tropeiros, ervateiros e madeireiros entre outros objetos trazidos por agricultores que remontam a história de muita gente. Alguns chegam a se emocionar ao entrar em contato com estas lembranças?, diz Íris, lembrando que através dos objetos materiais, atribuem-se valores sentimentais e, por isso, o museu se torna tão importante para eles.

Muitos pioneiros avaliam a memória coletiva um instrumento importante para a nova geração. ?Quem não conhece o passado não vive o futuro. É importante lembrá-lo para que os mais jovens pautem suas vidas seja através da imitação de boas coisas ou evitando erros?, completa Cid.