Um museu de ciência que detalha o impacto das ações humanas sobre o planeta, concebido para provocar, de modo simultâneo, reflexão e emoção e que oferece ambientes tão tecnológicos quanto poéticos. Assim promete ser o Museu do Amanhã, com inauguração prevista para 19 de dezembro, passados cinco anos de uma obra complexa. O futuro museu se apresenta como novidade pela arquitetura – erguido sobre o Píer Mauá, junto da renovada Praça Mauá, orla da Baía de Guanabara, é assinado pelo estrelado espanhol Santiago Calatrava, conhecido pelas edificações inusitadas e impressionantes que espalhou pela Europa – e pelo conteúdo, único no mundo, segundo o curador, o físico Luiz Alberto Oliveira.

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Avistar o prédio branco em um terreno de 30 mil m² já causa forte impressão. Em formato de barco, ele é circundado por espelhos d’água e jardins desenhados pelo escritório do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). A cobertura metálica avança além do corpo do edifício, formando marquises. A estrutura vazada propicia a passagem da luz natural, o que torna o passeio mais agradável. O edifício utilizará água da baía para sua climatização. A energia solar captada vai suprir 10% das necessidades do museu. A neutralização de suas emissões de carbono é promessa do Banco Santander, principal patrocinador do empreendimento, concebido pela Fundação Roberto Marinho e executado pela prefeitura do Rio.

Já na entrada, o visitante se depara com um globo terrestre suspenso de quatro metros de diâmetro, recoberto por placas de vídeo, em que estão representados os continentes, correntes marítimas, comportamento das calotas polares e a relação de causa e efeito entre os fenômenos naturais e humanos, caso de tsunamis e movimentos migratórios.

“As pessoas vão ver como uma tempestade de areia no Saara faz chover mais na Amazônia, qual é o impacto de uma queimada”, conta o curador, doutor em cosmologia e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. “Usamos a linguagem da arte para causar impacto sensorial e emocional. Pertencemos a uma linhagem de museus que convida o visitante a participar de uma experiência”, explica.

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A visita, que deve durar entre 1h30 e 2 horas, começará no Portal Cósmico, espaço dedicado à história do universo planeta Terra. Nas paredes de uma cúpula negra, será projetado um filme da produtora O2, com 8 minutos de duração, do cineasta Fernando Meirelles. O diretor, Ricardo Lagarano, diz que não queria um documentário científico: buscava mais uma experiência artística do que uma aula.

“Foi difícil dominar 14 bilhões de anos em oito minutos. A ideia era ter não um conteúdo de planetário, que pode ser chato para quem não gosta do assunto, e sim emocionar as pessoas”, revela. O público, entre 70 e 80 pessoas por sessão, poderá ver o filme recostado em almofadões.

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Transposto esse portal, o visitante será apresentado aos ecossistemas da Terra. Telas mostrarão imagens aéreas de diferentes biomas do Brasil. Balcões com telas touch interativas mostram informações, como as características da água e do movimento do planeta em relação ao sol.

Na sala sobre os mares, tecidos bailarão no ar, impulsionados por ventilador, para ilustrar como se dão as mudanças climáticas. Mais adiante, três cubos de 7 m de altura e de largura demonstrarão as três dimensões da existência, matéria, vida e pensamento. Será uma oportunidade de o visitante se aprofundar em diferentes espaços geográficos, como mangue, restinga, florestas, e de descobrir sequências de DNA.

A visita culminará no espaço do Antropoceno, período mais recente na história da Terra. Totens de 10 m exibirão imagens vertiginosas, que representam o efeito do consumo humano de alimentos, do despejo de resíduos tóxicos no ambiente e do uso de fertilizantes, entre outras práticas, para o futuro da biosfera. Ali, serão expostas as tendências para os próximos 50 anos, diante de um quadro de escassez de insumos, aumento populacional – a perspectiva é de que seremos 10 bilhões de pessoas em 2060 – e longevidade humana.

Já o fim do percurso, em contraposição, será sereno, numa espécie de oca tecida por quadrados de madeira encaixados, que terá no meio uma churinga, considerado um dos mais antigos artefatos humanos e ao qual populações primitivas atribuem o poder de conectar gerações passadas e futuras.