Grande novidade carioca de 2013 na área museológica, junto com a Casa Daros, o Museu de Arte do Rio completou um ano no carnaval. Em meio à confusão dos blocos do centro da cidade, as portas não abriram. A comemoração, no entanto, havia começado em fevereiro, com a abertura da exposição Encontro de Mundos – uma seleção de obras doadas à instituição. Foi a forma que a direção do MAR encontrou de homenagear os mais de 100 benfeitores de todo o País que já propiciaram a criação de 50 fundos (conjuntos de obras de diversos gêneros e suportes).
O primeiro ano foi de adequação ao prédio, na zona portuária do Rio, de formatação das coleções e de desenho das funções sociais do museu, que pertence à Prefeitura. Foi um ano de boas notícias e, também, de momentos tensos. A visitação bateu 330 mil pessoas de março a dezembro, o triplo do que se esperava. Segundo pesquisa, “68% dos cariocas já sabem da existência do MAR”, disse o diretor cultural, Paulo Herkenhoff.
Causaram suspense a quase invasão do museu por manifestantes da linha Black Bloc em agosto passado, durante protesto contra o governador Sérgio Cabral (o grupo achou que Cabral estava lá e Herkenhoff teve de agir para que a polícia não interviesse violentamente, chegando a receber voz de prisão por isso) e o aparecimento de rachaduras no prédio em janeiro, apenas dez meses depois de ter sido inaugurado.
“Eu não podia deixar que o museu fosse um espaço de repressão. Em nenhum momento me senti ameaçado pelos Black Blocs. Expliquei que eles não deveriam quebrar nossos vidros porque somos uma escola. Eles entenderam e fiquei comovido”, lembrou o diretor.
Sobre as rachaduras, na área da bilheteria, além de fissuras numa rampa e do afundamento do piso na saída do prédio, provocadas pelo impacto das obras pesadas em seu entorno, que preveem escavações e explosões, não há o que temer, ele garante.
“Foi na argamassa, nada estrutural. O museu foi barato, os materiais são simples, não tem mármore. Foram R$ 80 milhões, o custo de duas Bienais de São Paulo”, justifica. “Nada foi surpresa, estava tudo previsto. Você vai deixar de abrir um museu numa área em obras só por que vai ter uma rachadura no reboco?”
Caminhos. Diferentes temas (os chamados “núcleos significativos”) do acervo do MAR estão representados na mostra Encontro de Mundos, que ficará em cartaz até maio. Do século 17 ao 21, foram selecionadas 160 obras de artistas bem distintos, como Aleijadinho, Taunay, Afonso Tostes, Vik Muniz e José Bento, e também objetos simbólicos das culturas africana, indígena e judaica, num diálogo transversal que passa por arquitetura, urbanismo, religião, natureza e cultura popular.
São assuntos caros ao MAR e à anexa Escola do Olhar, dedicada a projetos de aprendizado e estudos da arte – estes e muitos outros assuntos, do intercâmbio com comunidades carentes, como o Complexo da Maré, à discussão de temas de interesse permanente, como o racismo, com a sociedade e a academia.
É pouca verba disponível para aquisição de obras (o orçamento total é de cerca de R$ 13 milhões, acrescido do mesmo valor via Lei Rouanet), preço de um banco de madeira de Guignard e uma pequena tela de Tarsila do Amaral. Já a oferta de doadores (que, assim, garantem a conservação e a divulgação das peças) e de artistas (cujo trabalho passa a ser mais conhecido) é farta. E assim o acervo vai sendo enriquecido.
Com passagens pelo Museu de Arte Moderna do Rio, o Museu Nacional de Belas Artes e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Herkenhoff estima que seja necessária uma década para que um museu se defina e se estabeleça. “Estamos engatinhando e vivemos em estado de porosidade. Temos que perguntar o que a sociedade quer do museu”, acredita o diretor.
“Para esse ano, o desafio é avançar na educação, em especial no ensino fundamental. Fomos visitados por 64 coordenadoras de escolas com baixo desempenho pedindo ajuda. A líder dessas escolas disse que depois que os alunos vieram aqui, melhorou a autoestima e o interesse na aula”, conta o diretor. Ele também quer intensificar a divulgação do MAR em hotéis e guias de turismo, a fim de atrair mais turistas estrangeiros.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.