Cazuza (1958-1990) chega nesta segunda-feira, 21, ao Museu da Língua Portuguesa e se torna o primeiro artista popular a ganhar uma exposição no espaço já ocupado por escritores como Fernando Pessoa, Machado de Assis e pela musa do cantor, Clarice Lispector – ele gostava tanto dela que leu Água Viva 120 vezes, fazendo um tracinho na última página ao final de cada leitura, lembra a mãe, Lucinha Araújo.

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Em poesia, ele gostava dos malditos, mas também de Carlos Drummond de Andrade. “Morávamos perto, e o Cazuza, com uns 15 anos, seguia o Carlos Drummond de Andrade quando ele saía para passear no Leblon e em Ipanema. Eu dizia: ‘Meu filho, ele vai achar que você quer assaltá-lo’. E ele respondia que o poeta nem reparava e que ele fazia isso porque o admirava muito”, conta Lucinha.

Mas as referências e influências literárias do músico não serão exatamente o foco da mostra Cazuza Mostra a Sua Cara, aberta hoje à noite para convidados e amanhã, 22, para o público. A ideia é mostrar seu pensamento político, a transformação do menino num jovem inquieto, rebelde, contestador, exagerado, que recentemente inspirou outros tantos jovens que foram às ruas levando nas mãos cartazes com frases de suas músicas, como “Meus inimigos estão no poder” e “Brasil, mostra sua cara”, e que, por trás, traziam uma outra mensagem dele: “Ideologia, eu quero uma pra viver”.

Também será discutida a relação entre letra e poesia. “Quando comecei a mergulhar nos depoimentos, vi que ele não sabia se era poeta. Ele estava procurando o lugar dele, e trouxemos essa questão para o museu”, explica Gringo Cardia, arquiteto e curador da exposição. “Ele falava que não era poeta, era letrista. Não concordo com ele, que era muito modesto. Mas, como eu sou a mãe e nada modesta, digo que ele era mesmo um grande poeta”, diz Lucinha.

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Apesar de não pretender fazer uma revisão biográfica do artista, a exposição é realizada num momento em que a população discute a questão das biografias. E a mãe do Cazuza comenta a situação: “O tempo da ditadura já passou. Temos que deixar, ver o que a pessoa vai escrever, e, depois, entrar na justiça se achar que algo deturpou a imagem do biografado”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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