Nesta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra, o Museu Afro Brasil, em São Paulo, realiza uma série de eventos para comemorar seus quatro anos: inaugura as exposições ‘Brasil Terra de Contrastes’ e ‘Walter Firmo em Preto-e-Branco’, promove lançamentos de livros e apresentações da performance Eu Conheci Benny Moré, por Félix Contreras, e show da cantora Áurea Martins.
Como afirma seu diretor, curador e idealizador, Emanoel Araújo, o Museu Afro Brasil “vai além das questões raciais”, recusando o encarceramento da questão da cultura negra em “um gueto”. O Afro Brasil não é museu do negro, mas instituição “de arte e não de antropologia” que “privilegia a invenção brasileira”, diz Araújo – é dentro de um panorama amplo sobre cultura brasileira que ela trabalha, abarcando miscigenação, raízes africanas e contemporaneidade.
‘Brasil Terra de Contrastes’ sintetiza o espectro desse conceito ao colocar, ao mesmo tempo, no mesmo espaço, numa visão “frontal”, obras dos mais diversos tipos – gravuras, fotografias, esculturas, objetos, tapeçarias – que perpassam o tema do descobrimento do País, a família real, a Amazônia, o índio, o barroco, a arte popular, as artes moderna e contemporânea (com trabalhos de uma elipse que pontua criações de Samico, Wega Neri, Célia Euvaldo, Brennand, Gerchman e Krajcberg, entre tantos outros) e a natureza e as manifestações populares no vídeo Via Brasil, de Sergio Bernardes.
A mostra, inspirada em livro homônimo do antropólogo e sociólogo francês Roger Bastide, é uma visão e uma visita instigantes sobre o País e carrega em si, também, a marca do projeto de Araújo para a instituição: suas exposições, de longa duração (atualmente estão em cartaz nos 11 mil m² do museu oito mostras), têm forte caráter cenográfico para seduzir o visitante e se fazem, primordialmente, a partir da coleção do museu, iniciada pelo acervo do próprio Araújo.
Walter Firmo
O fotógrafo Walter Firmo é o “poeta retratista” pela galeria de retratos que realizou de célebres – Pixinguinha, de pijama, numa cadeira de balanço, retratado em 1968, Clementina de Jesus, Cartola – ou anônimos ao longo de uma trajetória de mais de 50 anos. “Fotografo um Brasil desempenhando mil personagens em um”, já afirmou o fotógrafo, que agora é homenageado com mostra no Museu Afro Brasil e com o lançamento do livro Brasil – Imagens da Terra e do Povo (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo/ Museu Afro Brasil, org. Emanoel Araújo), que reúne mais de 260 de suas obras. A exposição no museu é formada por uma seleção de 67 fotografias realizadas entre a década de 1960 e 2008. Os retratos em preto-e-branco são o maior corpo da mostra, mas há também uma parede dedicada a obras coloridas e outra dedicada a uma série de auto-retratos do consagrado fotógrafo.
Ao comemorar agora quatro anos, o Museu Afro Brasil, que recebe entre 16 e 18 mil visitantes por mês, está em pleno processo de transição para deixar de ser Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Osip), com recursos de manutenção pela Prefeitura de São Paulo (R$ 1,8 milhão por ano) para se tornar, a partir de 2009, uma Organização Social de Cultura (OS) com contrato de gestão com a Secretaria de Cultura do Estado – na segunda-feira o projeto será apresentado ao secretário João Sayad. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.