Murilo Salles filma o desamparo da juventude

?Sejam como vocês são em uma festa real. Como são as festas em São Paulo? A porta fica aberta ou trancada?? Esse era o diretor Murilo Salles, em um dos últimos dias de filmagem de seu mais novo filme: Uma história real, que tem como protagonista a jovem e talentosa Leandra Leal (de A ostra e o vento). A cena, que ele queria o mais realista possível, era de uma típica festa jovem paulistana em um apartamento, com direito a amigos fazendo figuração, cerveja ?cenográfica?? e também cerveja de verdade, garimpada com a produção, música ?de verdade?? e o cenário da Avenida Paulista ao fundo.

São Paulo (AE) – Em meio ao elenco jovem do filme, o diretor, que já está na casa dos 50 anos, circulava à vontade. Tão à vontade que dispensou os sapatos e filmava só de meias. ?Não sei empunhar a câmera? (que dividia com a diretora de fotografia Fernanda Riscali), dizia ele em resposta às brincadeiras.

Depois de enfocar a cena jovem paulistana em Seja o que Deus quiser, de 2002, Salles volta ao universo que tanto o instiga. ?Uma história real é diferente de S.Q.D.Q, que era uma sátira, tudo era exagerado. Ninguém entendeu o filme porque achavam que era sério. Já este é realista. E, ao mesmo tempo, é uma metáfora. É sobre o universo jovem, mas filmado por um adulto??, conta ele durante o intervalo das filmagens.

Salles é um diretor especialmente afeito a apostas. Além de se embrenhar em um universo que assumidamente não domina, filma com uma equipe predominantemente jovem. ?Faço filmes para descobrir as coisas. Gosto de trabalhar com jovens, mas isso não é exclusividade minha. É sempre assim no cinema em todo o mundo: um diretor velho trabalhando com jovens profissionais?, brinca. ?Quero fazer filmes para o público que me interessa. Jamais farei como a Carla Camurati, que filmou Copacabana, sobre a terceira idade. Não me interessam os temas adultos. O jovem ainda está se formatando. Esse processo é muito mais interessante que o processo da maturidade, que é sensacional. Estou nela e acho ótimo, mas é um período menos instigante?, responde Salles, ao ser questionado sobre o pantanoso terreno do universo jovem.

Mais que isso, o universo jovem e da noite paulistana, que muda tão rapidamente quanto os posts dos blogs e fotologs que servem de diário para muitos dos personagens reais da história que Salles quer contar.

Por falar em blogs, posts e universo jovem, Uma história real é inspirado na obra (e, conseqüentemente, na vida) da jovem escritora gaúcha Clara Averbuck, que se tornou a dona de um dos blogs mais visitados do País (http://brazileirapreta blogspot.com, que, infelizmente, ela não alimenta há mais de um ano) e é autora de Máquina de Pinball, Vida de gato e Das coisas esquecidas atrás da estante.

?Comprei os direitos do Vida de gato. Mas, no processo, vi que estávamos usando muita coisa do blog. Então, comprei o conteúdo do blog também. Praticamente eu comprei a obra toda da Clara??, explica Salles, que diz ter feito questão de se cercar de ?bons consultores?? para o ajudar a escrever um roteiro nada caricato, assinado por Salles, Elena Soares e Melanie Dimantas. ?Mais que um filme sobre jovens, é uma história sobre um rito de passagem para a vida adulta, é sobre o desamparo. E não tem gírias da moda, não é maneirista.?

O diretor carioca também fez questão de filmar mais uma vez em São Paulo. ?Voltei para cá porque a história original da Clara se passa aqui. Mas é uma livre adaptação. É um olhar meu sobre essa personagem que tem 22 anos e é desamparada, solta, que saiu das amarras da família??, conta.

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