Na estréia do segundo “round” do “Horário Eleitoral Gratuito”, Luís Inácio Lula da Silva e José Serra mostraram velhas armas na corrida pela Presidência da República. Os dois candidatos apresentaram estratégias e programas sensivelmente diferentes, mas nada que fosse original realmente.
Nem todas as mudanças são produto exclusivo das diferenças entre o primeiro e o segundo turno, que impõe o confrontamento direto entre os dois candidatos, com direito a tempos iguais e uma pauta de assuntos inevitáveis. Algumas dirigem-se exclusivamente à subjetividade dos eleitores, como a mudança nas cores dos cenários. O programa de Serra trocou o fundo azul pelo verde-amarelo e o clima da sala-de-estar por uma bancada com ar mais jornalístico. O formato de entrevista, no entanto, foi mantido. O candidato parece determinado a priorizar, na nova etapa da campanha, a exposição das propostas. Tanto que abandonou o apelo ao carisma de celebridades, que marcou fortemente seus programas no primeiro turno. Em lugar de videoclipes com artistas como Elba Ramalho, KLB e Chitãozinho e Xororó, da apresentação de Gugu Liberato e do bordão “né brinquedo não”, na voz de Solange Couto, Serra agora ocupa a maior parte dos 10 minutos de programa. Mas conta também com novos “jingles” e clipes musicais.
Já Lula recorreu, em seu programa de estréia, ao formato do auditório, numa clara tentativa de manter o clima de emoção que deu a tônica nos últimos momentos do primeiro turno. O candidato reuniu mais de 400 políticos do PT e dos aliados PSB, PPS, PDT, PC do B, PCB e PL, deixando clara a sustentação política que terá caso chegue ao Planalto. Lula exibiu com orgulho as vitórias conquistadas pelo PT nas eleições estaduais e o aumento da bancada do partido na Câmara e no Senado. Ao som de constantes salvas de palmas, apresentou os novos aliados, Anthony Garotinho e Ciro Gomes, e puxou o coro que recebeu, aos gritos de “Ciro! Ciro!”, o candidato derrotado da Frente Trabalhista. O ambiente festivo prolongou-se com um clipe mostrando os semblantes animados dos principais aliados petistas, dentre os quais chamava a atenção a senadora eleita pelo PFL Roseana Sarney, ainda na cama do hospital onde se submeteu a uma cirurgia para a retirada de nódulos no seio.
O tom do programa petista reflete a vantagem de Lula no primeiro turno, bem como a margem em torno de 30 pontos sobre Serra que as pesquisas atribuem a ele nesta segunda etapa da disputa. Já o candidato tucano procura deixar clara, ao manter o formato das entrevistas, a disposição ou a necessidade de debater.
Pelo que se pode observar, os programas de Lula devem manter o tom do espetáculo em torno da coalizão que o petista conseguiu formar. Ao menos nesta primeira semana, as grandes estrelas da campanha foram a vitória expressiva em 24 estados brasileiros e a conquista de novos aliados. Já Serra, que tem até o dia 25 de outubro para tentar alguma coisa, só tem como saída se mostrar confiável, o que só poderia ocorrer com discussão de propostas. Mas Serra, na estréia de seu programa, já esqueceu a primeira promessa, que seria dedicar cada dia de campanha à apresentação de soluções para um problema específico do país.