Disco de Marcelo D2 foi premiado.

Rio, 02 (AE) – Foi uma noite politicamente correta, para o asfalto conhecer a arte da favela. O prêmio 11.º Multishow de Música Brasileira, entregue ontem (01), lotou o Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Celebridades (na platéia e balcão nobre) e meros mortais (no balcão simples e galerias) foram conhecer os preferidos do público do canal pago da Globosat, eleitos por internet e ligações da operadora de telefonia celular, uma das patrocinadoras. A noite começou com AfroReggae e MV Bill, teve número do Corpo de Dança da Maré, de Ivaldo Bertazzo, figurino da Coopa-Roca (cooperativa de estilistas da Rocinha) e terminou com Jamelão cantando o samba em homenagem a Dorival Caymmi, com o qual a Mangueira venceu o carnaval de 1986. “Eles são a mesma geração do samba, um do Rio e outro da Bahia”, lembrou Nelson Motta, tradicional apresentador da festa.

Deu Caetano Veloso (melhor cantor), Maria Rita (cantora) e Los Hermanos (grupo), num resultado já esperado, pelo sucesso deles em 2003, período que valia para a votação. Os mineiros do Skank vieram ao palco duas vezes, pela melhor música (“Vou Deixar”) e melhor show. Samuel Rosa, seu líder, não se fez de rogado. “Sempre sonhei pisar nesse palco para receber esse premiozinho”, entregou. Maria Rita, gravidíssima (oito meses) recebeu o troféu de Paulinho da Viola, que o carregou para ela. “É muito pesado”, havia avisado Hebe Camargo, quando entregara o de revelação-solo à baiana Pitty. Elegante, a roqueira subiu ao palco com sua banda e negou ser artista-solo. “Sempre estive com meus amigos, do palco e da técnica, para o show acontecer”, disse.

Herbert Vianna viu a festa num camarote junto ao palco, com os filhos, recebeu a homenagem especial, após um curto documentário, com imagens de shows antigos dos Paralamas do Sucesso no Circo Voador, das primeiras turnês e trechos de entrevistas em que fala da carreira, do grupo que criou e de música em geral. A Orquestra Imperial tocou um pot-pourri de seus sucessos, com canja de Fernanda Abreu e ele, ladeado por Bi Ribeiro (baixista dos Paralamas) e João Fortes (empresário) agradeceu ao público pela fidelidade de mais de 20 anos. João Barone (baterista) fez falta, mas está na Europa, para comemorar os 60 anos do Dia D.

Foi uma noite de modelitos e simplicidade. Zeca Pagodinho (que concorria a melhor cantor e DVD) chegou cedo e discreto, com a família. Os rapazes do Skank e de Los Hermanos ostentavam aquele estilo sem stylist, que os caracteriza, ao contrário dos vocalistas Falcão (Rappa) e Toni Garrido (Cidade Negra), montadíssimos. Marisa Monte, que entregou o prêmio a Caetano Veloso, exibiu longas pernas em meias vermelhas, num modelito tipo cabaré (ela pode) e Regina Casé, apresentadora ao lado de Nelson Motta, vestia, indecifrável, um modelito que lhe acentuava as formas generosas.

Preta Gil e Susana Vieira abafaram, a primeira de chapelão e tubinho em tons pastel, magra sem abandonar o gênero mulherão, e la Vieira, já morena como Maria do Carmo, a protagonista da próxima novela “Dona do Destino”, que vai substituir “Celebridade”, na Rede Globo, a partir do mês que vem. Sandra de Sá escondeu as novas formas do regime que acaba de fazer num figurino largadão, como é seu estilo, para deixar toda a atenção para seus cabelos, tingidos de um fantástico tom de goiaba. Malu Mader, Sandy e Júnior, Ivete Sangalo, Elba Ramalho e Juliana Knust chegaram discretas, mas foram assediadíssimas pelo público que lotava a calçada em frente do Municipal, apesar da garoa e do frio que davam à noite um jeito de São Paulo.

Os agradecimentos dos vencedores foram longos e emocionados. O baixista Champignon, o primeiro deles, leu uma lista que incluía a prefeitura de Santos, no litoral paulista. Jota Quest agradeceu ao público do Curral del Rei (como moradores de Belo Horizonte gostam de chamar sua cidade) pelo calor que deram ao show que gerou o melhor DVD. Frejat repetiu a dose de melhor clipe, com uma animação do grupo Seaquils Fly. “Eu e a gravadora só bancamos a criatividade deles”, disse, modesto. E Marcelo D2 dedicou seu prêmio de disco aos sambistas tradicionais e a três companheiros de sua geração, Marcelo França, Marcelo Yuka e Chico Science, o falecido criador do mangue beat.

“Festa como essa é bacana porque reúne todo mundo e a gente tem consciência da importância da música popular brasileira. Está todo mundo aqui e, se uma bomba caísse agora no Municipal, não sobrava ninguém. Ia ter de recomeçar tudo, desde tia Ciata”, disse a apresentadora Regina Duarte, num momento de entusiasmo, em que precisava distrair o público nos três minutos do intervalo comercial. O prêmio foi transmitido ao vivo para o Brasil e Portugal e será reprisado várias vezes pelo canal até a próxima semana. Nelson Motta foi mais discreto, não improvisou em cima do afiado roteiro. O som foi o único defeito da noite. Alto demais e equalizado de menos, incomodava, sem permitir ouvir vocalistas e instrumentos.

OS PREMIADOS

Instrumentista: o baixista Champignon, do Charlie Brown Jr

Revelação de grupo: Babado

Revelação-solo: Pitty

Grupo: Los Hermanos

DVD: Jota Quest, Ao Vivo

Show: Skank

Clipe: Túnel do Tempo, de Frejat

Música: Vou Deixar, do Skank

Disco: À Procura da Batida Perfeita,de Marcelo D2

Cantora: Maria Rita

Cantor: Caetano Veloso
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