Três mulheres, três épocas e uma atriz; em comum seus dramas e o telefone. Completos trinta anos de carreira, Christiane Torloni sobe o palco do Teatro Guaíra com apresentação solo da peça Mulheres por um fio, hoje, amanhã e domingo. Com direção de José Possi Neto, textos de Jean Cocteau, Dorothy Parker e Miguel Falabella, o espetáculo reflete sobre as artimanhas, mazelas e consolos do amor nos textos: A voz humana, Um telefonema e Pour Elise ou uma mulher de seu tempo. Nas três histórias a atriz conversa com um homem ao telefone.
Segundo Possi, o projeto de Mulheres por um fio só ganhou forma após a primeira leitura de O telefonema de Doroty Parker. ?Sempre quis encenar A voz humana. São memórias vivas e distantes, o conto de Parker é sem dúvida um texto perfeito para um solo teatral, assim como todos seus contos?, conta. Apaixonado confesso pelo trabalho e amizade de Christiane Torloni, o diretor pensou imediatamente num tríptico teatral.
Ambientado em 1930, A voz humana fala sobre um amor trágico e o desespero de uma mulher que junto ao telefone tem os diálogos prejudicados pelas falhas nas transmissões telefônicas, comuns naquela época. Jean Cocteau (texto) foi poeta, romancista, dramaturgo e um cineasta adepto das experimentações. Encantado com a idéia de causar impacto, principalmente no meio intelectual, o artista caía em contradições recorrentes, o que não diminuiu em nada sua genialidade e criatividade discursiva.
No melhor estilo Hollywood dos anos 50s, em Um telefonema, de Dorothy Parker, uma jovem linda e loura fica à espreita de um telefonema do sonhado marido ideal, de seu ?príncipe encantado?. O original do texto foi publicado como uma crônica, mais tarde traduzido por Ruy Castro e adaptado para o palco por José Possi Neto. Parker foi uma personalidade na Nova York de seu tempo. Humorista em vários contos, poemas e críticas, ela fazia o leitor rir e chorar ao mesmo tempo. No palco a emoção deve ser a mesma, já que no decorrer da história o público ri até pouco antes do final, quando se percebe a tragédia da solidão feminina. Nesse ponto o passado se mistura à realidade abrindo as portas para o esperado momento de Pour Elise ou uma mulher de seu tempo.
Na terceira história, escrita por Miguel Falabella especialmente para Mulheres por um fio, uma mulher atual vive a crise existencial comum no universo feminino contemporâneo. ?Nessa terceira peça eu precisava de uma mulher do nosso mundo, forte, sensual, articulada, ardida e amarga na sua inteligência e na sua forma de ver os homens e o mundo?, afirma Possi. A personagem é uma brasileira de meia idade tentando entender sua vida enquanto aparece atarantada em meio a três aparelhos de telefone celular, sem falar no ex-marido, filha, namorado, mãe, massagista, cirurgião plástico e parceiros sexuais de ambos os sexos.
Serviço:
Mulheres por um fio, com Christiane Torloni. Cenografia de Jean-Pierre Tortil, figurinos de Fabio Namatame e iluminação de Wagner Freire. Hoje e amanhã às 21h e domingo às 19h, no Guairão. Ingressos a R$ 40 (platéia e primeiro balcão) e R$ 30 (segundo balcão).
