Mulheres com HIV são tema de documentário brasileiro

As histórias emocionam não apenas porque revelam a rotina de quem vive há anos com o HIV, vírus causador da aids, mas também porque lembram que a contaminação poderia ter acontecido com qualquer mulher. Silvia, Cida, Heli, Michele, Ana, Maria e Rosário não tinham vida sexualmente promíscua. Pelo contrário.

Silvia e Heli nunca tiveram outros homens além dos maridos. E, por excesso de confiança nos parceiros, nunca pediram que usassem camisinha. O documentário “Posithivas”, de Susanna Lira, revela rostos de vítimas de uma estatística que preocupa: 64% das brasileiras com HIV o contraíram dos maridos ou parceiros estáveis.

O documentário vai ajudar o Ministério da Saúde a sensibilizar brasileiras para que exijam o uso da camisinha de todos os parceiros, seja um namorado efêmero ou um marido de anos. Houve uma exibição na semana passada, no Museu Nacional de Brasília, e outras serão marcadas ao longo das próximas semanas, antes do lançamento oficial. O mérito do filme está na força dos depoimentos das sete mulheres e no modo como elas enfrentam o estigma de serem portadoras do HIV.

Elas repetem, uma depois da outra, porque nunca pediram que o namorado ou o marido usasse camisinha. “A gente acha que o amor imuniza”, resume Heli. Dona de casa, moradora do subúrbio carioca de Piedade, Heli descobriu da pior forma possível que o amor não é tão poderoso assim.

Depois de 31 anos de casada, só soube que o marido tinha aids quando ele já estava à beira da morte. Nem bem se refez do susto, descobriu que estava contaminada com o HIV. Convive com o vírus há 14 anos.

Não há médicos ou psicólogos no filme. “A voz da ciência já foi ouvida. O filme é a chance de o público ouvir experiências de verdade”, define Susanna. Para fazer “Posithivas”, ela passou um ano frequentando grupos de apoio a mulheres com HIV. Viajou por várias capitais, conversou com mais de 30 mulheres até definir suas “atrizes”.

“São mulheres que se entregam com confiança aos seus maridos e namorados. Casamento é onde nós, mulheres, nos sentimos seguras”, define. Muitas aceitaram dar depoimento, mas sem mostrar o rosto. “Percebi como é grande o preconceito contra quem tem o vírus. Mas preferi só incluir mulheres que topassem mostrar o rosto. Se fizesse diferente, eu estaria ratificando o preconceito. Elas não são criminosas.”

Apesar dos dramas individuais, “Posithivas” mostra mulheres que encaram o futuro com otimismo. “Eu vi um mundo que não tem arco-íris. Mas não fiz um filme para amedrontar as pessoas. São mulheres que lutam para que a vida seja melhor para todo mundo”, diz Susanna. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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