Muitas cores e canções em ‘Os Gigantes da Montanha’

“Pirandello é geralmente visto sob uma ótica sisuda. É tudo muito rancoroso e sombrio”, define Gabriel Villela, referindo-se à prevenção que grande parte dos estudiosos tem ao escritor italiano, resultado do seu controverso apoio ao fascismo nos anos 1930. “O que fizemos foi tirar essa película escura que o cobre para mostrar ao público as suas cores.”

Não poderia haver alguém mais inteirado sobre colorido e exuberância do que o diretor mineiro. Muitas vezes tachado de barroco, ele possui declarado apreço pela beleza. E não se furta em trazê-la para essa versão de Os Gigantes da Montanha, com o Grupo Galpão. “O mundo está muito feio. E não está fácil se bancar o belo do início ao fim. Às vezes, mesmo para se mostrar o mais feio, é precisar passar pelo que é bonito.”

Ainda que de maneira oblíqua, as declarações do encenador encontram ressonância no texto escrito em 1936. Nessa fábula, o autor refletia claramente sobre a função da arte, o espaço que ainda pode existir para a literatura e o teatro em um mundo regido por outras lógicas, mais pragmáticas. “Ele está colocando questões muito pungentes, filosóficas, que falam da imaginação como única saída para os artistas”, acredita o ator Eduardo Moreira.

Nenhuma criação foi tão trabalhada por Pirandello como esse texto. Sua escrita consumiu anos e, mesmo no leito de morte, o dramaturgo ainda se preocupou em ditar ao filho as indicações para o que seria um terceiro ato. Sonho, loucura, delírio – são alguns dos componentes em jogo nesse Os Gigantes da Montanha. Conta-se a saga de um grupo de atores decadentes que chega a uma vila isolada. É lá, nesse ambiente regido por um mago e povoado por fantasmas, que eles devem apresentar uma peça. Mas os únicos espectadores disponíveis são os temidos gigantes da montanha. “Nós nem sabemos se eles estão vivos ou mortos. Quem são esses tais gigantes? Trata-se de puro realismo fantástico. Poderia muito bem se passar em Macondo”, diz Villela, fazendo menção à cidade que o colombiano Gabriel García Márquez descreve no romance Cem Anos de Solidão.

A peça, que estreou em Belo Horizonte em maio desse ano e já passou por 20 cidades, chegou a reunir mais de 10 mil pessoas em uma única apresentação. Para dar forma à ficção complexa de Pirandello e torná-la inteligível para plateias tão grandes, o grupo e o diretor lançaram mão de suas habilidades em lidar com opostos: misturam o clássico e o popular, trazem uma dramaturgia universal, mas mesclada a aspectos da cultura brasileira, usam canções europeias e bonecos do Nordeste. “São polos extremos, aparentemente inconciliáveis, que a gente consegue unir”, comenta Eduardo Moreira.

OS GIGANTES DA MONTANHA – Parque da Independência. Av. Nazareth, s/nº. 6ª e sáb., 20h30. Grátis. Programação da Mostra: www.sescsp.org.br/teatroderua

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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