É bem diferente morar ou viver em uma casa.
Foi o que pensei, ao encontrar uns amigos um tanto tristes, que me contaram da necessidade de mudar da casa. A casa deles é linda e aconchegante, com um jardim de sonhos, longe do burburinho da rua e afastada de vizinhos… Mas ela já não garante muita segurança, dada a situação de miséria e vagabundagem que se instalou aqui, na cidade.
Nós também mudamos, faz muito tempo, da casa com jardim, para um apartamento no centro da cidade. Passamos a ouvir brigas violentas, palavrões, aparelhos de som eram ligados a qualquer hora do dia ou da noite.
Bem em frente, um restaurante-bar era ponto de reunião de pessoas que faziam muita algazarra, até altas horas da noite. Um outro, bem ao nosso lado, repetia a mesma bagunça! Bem próximo, foi instalada uma boate gay!
Certos proprietários de automóveis ligavam o som bem alto e nós sempre telefonávamos para o 190 reclamando. Era de enlouquecer!
De nada adiantaram as nossas reclamações. O nosso direito ao descanso estava sendo negado. Então, em desespero, enviamos duas cartas para os nossos senadores em Brasília. Um deles respondeu… A boate gay e o bar ao lado tiveram as portas fechadas.
Mas o restaurante ainda permaneceu funcionando por muito tempo, sempre com muito barulho, pouco se importando com os vizinhos. Um dia, enfim, fecharam as portas. Mudaram para outro local. Saíram deixando para trás muita raiva e muita sujeira.
Margarita Wasserman – Escritora e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.