Comemora-se hoje o centenário de Akira Kurosawa. A data ganha homenagens no Rio de Janeiro e em São Paulo. Na capital paulista, a Sala Cinemateca inicia uma programação especial que rememora o Kurosawa do começo da carreira, nos anos 1940, e a etapa final. No Rio, o Instituto Moreira Salles promove a revisão da obra do diretor.
Na mostra do Rio haverá um debate sexta, dia 26, às 19 h, com a participação de Walter Salles, após a exibição do documentário “Kurosawa, Pintor de Imagens”. Além de cinéfilo, Salles foi cotado para realizar o remake de “Céu e Inferno”. O projeto não se concretizou, mas “Céu e Inferno” está incluído na caixa de DVDs que está sendo lançada pela Europa Filmes, com cinco títulos, entre eles também “Os Sete Samurais” e “Sanjuro”.
Filho de militar, Akira Kurosawa queria ser pintor. Para financiar seu sonho, começou a trabalhar na empresa de cinema Toho, como assistente. Em 1943, estreou na direção com “A Saga do Judô”. Essa primeira parte da carreira é marcada pelos temas contemporâneos. “Juventude sem Arrependimento”, “O Anjo Embriagado”, “Duelo Solitário” – conhecido como “A Luta Solitária” -, “Cão Danado”.
Em 1951, Kurosawa realizou “Rashomon” e sua história de samurais recebeu o Leão de Ouro em Veneza. O Ocidente descobria, assim, o cinema japonês. No ano seguinte, o diretor voltou aos temas contemporâneos com “Viver”. Em 1954, voltou a Veneza com “Os Sete Samurais” e recebeu, na ocasião, um Leão de Prata, correspondente ao prêmio do júri, compartilhado com os cineastas Federico Fellini (“A Estrada da Vida”), Elia Kazan (“Sindicato de Ladrões”) e outro grande diretor japonês, Kenji Mizoguchi (“O Intendente Sansho”).
Dostoiévski e Shakespeare
Nos anos 1950, enquanto Kurosawa conquistava a consagração internacional, no Japão ele provocava polêmica e recebia duras críticas. Alguns diziam que ele tinha se tornado ocidental demais. Suas referências eram a literatura ocidental – os russos, Gorki, e Dostoiévski, Shakespeare e Hollywood. A fase final foi marcada por obras testamentais – o ecológico “Dersu Uzala, Kagemusha, a Sombra do Samurai”; “Ran”, que se baseia no “Rei Lear”; e “Madadayo”. Kurosawa ganhou os maiores prêmios do mundo – a Palma de Ouro em Cannes, o Oscar de Hollywood. No Japão, foi chamado de Imperador. Em meados dos anos 1960, ele rompeu com seu ator fetiche, Toshiro Mifune. Mestre do paradoxo e do movimento, Akira Kurosawa morreu em 1998, aos 88 anos, consagrado como um dos maiores artistas do cinema mundial.