Nos anos 1980, em plena ebulição da onda neoexpressionista, o empresário João Carlos Figueiredo Ferraz começou a frequentar as galerias de São Paulo, tornando-se amigo de artistas, críticos e galeristas. Entre os últimos, a marchande Luísa Strina foi decisiva na formação de sua coleção de arte, hoje com mais de 1.000 obras, abrigadas no Instituto Figueiredo Ferraz, em Ribeirão Preto. Uma das duas mostras que o instituto inaugura no sábado, 14, é dedicada a ela, como forma de reconhecimento por essa parceria de 30 anos e pelos 40 anos de existência de sua galeria, aberta em 1974 no antigo estúdio do pintor Baravelli. A exposição, com curadoria de Fernando Oliva, abriga duas dezenas de obras compradas pelo empresário da marchande. A outra mostra, Momento Contemporâneo, no mesmo local, é maior: tem 100 obras da coleção selecionadas pelo curador Paulo Venâncio Filho.

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Na abertura das duas exposições será lançado um livro que conta a história da coleção Dulce e João Figueiredo Ferraz com textos do secretário de Cultura do Estado, Marcelo Mattos Araujo, e da crítica Aracy Amaral, entre outros, além do próprio colecionador. Figueiredo Ferraz conta como sua coleção foi formada sem vínculo mercadológico, moldada apenas pelo desejo de buscar contemporâneos capazes de traduzir visualmente o espírito da época.

Quando começou a coleção, que hoje abriga de Amilcar de Castro a Tatiana Blass, passando por Cabrita Reis, Max Bill e Nuno Ramos, o empresário acabara de mudar para Ribeirão Preto, onde iniciou um empreendimento agroindustrial. Deixou em São Paulo um pequeno apartamento e alugou uma ampla casa, em Ribeirão, com paredes vazias à espera de obras de arte. Luísa Strina, na época, já trabalhava com Leonilson, Tunga e outros artistas emergentes, que foram incorporados gradativamente à coleção. “Naquela época éramos jovens, começando a vida, sem dinheiro, e Luísa facilitou os pagamentos de diversas obras”, lembra Figueiredo Ferraz.

Uma das primeiras adquiridas pelo empresário, uma tela do pintor carioca Jorge Guinle (1947-1987), ainda hoje figura na coleção. O colecionador não é do tipo voltado à especulação. Tanto que uma das obras de referência de sua coleção, um dos exemplares da série Sarrafos, a última produzida por Mira Schendel (1919-1988), continua sendo um dos destaques de seu acervo – isso numa época em que o mercado internacional disputa avidamente os trabalhos da artista suíça (naturalizada brasileira), recentemente homenageada com uma retrospectiva na Tate Modern, que chega à Pinacoteca em novembro.

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“Raquel Arnaud, que fez a última exposição de Mira, havia reservado um dos ‘sarrafos’ para ela, mas consegui convencê-la a vender”, conta o colecionador. Além de tudo, foi um ótimo negócio: na época, os “sarrafos” custavam algo em torno de US$ 8 mil. Hoje, quem tem, não vende nem por US$ 1 milhão.

Graças ao empenho de Figueiredo Ferraz, a obra está em exposição permanente no instituto que leva seu nome, um centro cultural de boa arquitetura já visitado por 11 mil pessoas desde que foi inaugurado, em outubro de 2011, em Ribeirão Preto. Além das quatro exposições realizadas em sua sede, o empresário se esforçou para difundir a cultura na cidade, aceitando, desde 1988, o desafio de realizar salões de arte, que promoveram a arte contemporânea em Ribeirão Preto. A amizade com o crítico Alberto Tassinari, primo de sua mulher, Dulce, facilitou o contato com grandes artistas de São Paulo, especialmente os do grupo Casa 7, que reunia nomes como Nuno Ramos e Paulo Monteiro.

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“Além de Tassinari, os críticos Rodrigo Naves e Ronaldo Brito, entre outros, sempre colaboravam com os salões e foi por intermédio deles que descobri grandes artistas hoje presentes na coleção.” Foram ao todo sete salões, que levaram a Ribeirão Preto trabalhos de Antonio Dias, Iberê Camargo, José Resende e Tunga, entre tantos nomes fundamentais da arte contemporânea brasileira.

Mesmo com a presença de artistas estrangeiros na coleção Figueiredo Ferraz, o empresário não costuma comprar obras de arte em feiras internacionais, apesar de, no passado, ter adquirido lá fora peças de brasileiros, logo no início da investida brasileira no mercado externo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.