O fato de a exposição AI-5 50 Anos – Ainda Não Terminou de Acabar ser realizada agora não é uma tentativa de traçar um paralelo direto entre 1968 e 2018, segundo o curador do Instituto Tomie Ohtake, Paulo Miyada. “A história não funciona por reproduções idênticas, mas o que acontece é o custo de tudo o que houve com o AI-5.”
Para contextualizar a mostra, o curador traz um depoimento da dramaturga britânica Jo Clifford sobre o caso de censura da montagem da sua peça O Evangelho de Jesus, Rainha do Céu, que traz o Messias reencarnado como uma transexual, no ano passado, em São Paulo. Em comparação, Miyada cita o caso de uma obra de Décio Bar, de 1965, que foi censurada pela ditadura e que também é resgatada na exposição. “Não havia nenhuma crítica aos militares, mas havia uma sensualidade. Foi uma censura moral.”
Como parte da exposição, foi comissionada uma obra coletiva de um grupo de artistas jovens, com nomes como Ana Prata e Bruno Dunley. “Os artistas não são necessariamente amigos ou compartilham as mesmas premissas estéticas, assim como a geração de 64”, explica Paulo. “Eles não tinham o discurso político como primeira linguagem, mas acharam importante trabalhar juntos e trocar ideias sobre o momento.”
Além de todas as obras, AI-5 50 Anos traz ainda textos e documentos recentes que fazem alusão aos efeitos da ditadura, assinados por nomes como o crítico Mario Pedrosa e a historiadora Aracy Amaral.
A história do presidente do Instituto Tomie Ohtake, Ricardo Ohtake, também é lembrada. “Há pouco tempo ele descobriu que foi impedido de voltar à Universidade de São Paulo como professor porque havia cartas dos reitores, indicados pela ditadura, que proibiam sua contratação, por ele ter sido acusado de ser subversivo”, explica ainda Miyada.
“As pessoas acham que a história não é importante”, diz Ricardo. “Eu vivi esse período e sei que foi difícil. Conheci vários artistas que viveram e foram perseguidos.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.