Feche os olhos e por um instante lembre da avenida Rio Branco no Rio de Janeiro, recente palco das manifestações de junho. A massa de milhares de pessoas preenche o vazio entre os arranha-céus. Abra os olhos e veja a pacata e larga avenida com pouquíssimos carros e pessoas. Seu olhar alcança os barquinhos no mar e as terras de Niterói no horizonte.
Mais um exercício: imagine a praia de Copacabana vista de cima de um dos morros e tente achar o Copacabana Palace. Conseguiu? Caso não tenha tido êxito em sua tentativa, na galeria FASS, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, numa fotografia de Copacabana avista-se um único edifício em toda orla, o mais charmoso e glamouroso hotel.
As imagens das três primeiras décadas do século passado da cidade maravilhosa estão presentes na exposição fotográfica Sebastianópolis – Fotografias do Rio de Janeiro, 1900-1930. Sob curadoria de Diógenes Moura, revela em 60 imagens o olhar de fotógrafos e estúdios como de A. Ribeiro, Braz, Carlos Bippus, Thiele e também de alguns fotógrafos anônimos.
A galeria realizou a pesquisa durante cinco anos, período em que comprou de colecionadores todas essas raridades para montar seu acervo. São cópias únicas em que se pode notar o brilho da prata no papel fotográfico.
Toda poética de uma época em que parece que o tempo parou. Claro que os fotógrafos em questão registravam em seus cartões postais uma das mais belas cidades do mundo e essas fotografias afastavam qualquer ligação negativa com a cidade infestada pela febre amarela, peste bubônica, varíola e tuberculose que tanto mataram pessoas, entre eles o saudoso Noel Rosa. A sujeira acumulada nos becos contribuía com a proliferação das doenças e, então, nessa época, muitas avenidas foram alargadas e arejadas, como a Avenida Central, atual Rio Branco, inaugurada em 1905.
Pode-se ver em uma das fotos a praça Quinze com a estátua de D. João VI sem o contraste do Elevado da Perimetral. Ironia ou não do destino, talvez em breve, a calma e a paz de uma praça com chafarizes e coretos possa voltar um pouquinho com a retirada do Elevado da Perimetral.
Para o curador Diógenes Moura, as fotografias expostas nos levam à reflexão “sobre as bruscas mudanças capitalistas e interesses políticos a que foram submetidas as cidades brasileiras no último século”. Essa memória reaviva “o nosso desejo utópico de vermos as nossas cidades originalmente preservadas”, diz ele.
Até 14 de dezembro dá para conferir a iconografia nostálgica de Sebastianópolis, nome com que o cronista Olavo Bilac carinhosamente chamava o Rio de Janeiro e ver os imponentes Arcos da Lapa tendo ao centro de sua extensão uma abertura bem maior em um deles. Na época, o arco grandão foi aberto para favorecer passagem dos poucos carros e bondes. Hoje ele não existe mais, todos são iguais.
SEBASTIANÓPOLIS – FOTOGRAFIAS DO RIO DE JANEIRO, 1900-1930 – Galeria FASS. Rua Rodésia, 26, Vila Madalena, tel. 3037-7349. De 3ª a 6ª,
das 12 h às 19 h; sáb., das 11 h às 17 h. Grátis. Até 14/12.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.