O ano de 1955 foi um marco na vida do jovem fotógrafo Robert Frank. Àquela altura, ele já tinha deixado a Suíça, onde nasceu em 1924, já tinha trabalhado em revistas em Nova York, viajado pelas américas Central e do Sul, voltado à Europa e de novo aos Estados Unidos. E então, aos 30, Frank ganhou uma bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation para uma longa viagem pelos Estados Unidos com o objetivo de fazer “um estudo visual de uma civilização”. Fez mais que isso: criou um clássico da fotografia do século 20, “The Americans”.
Sem um roteiro estabelecido e a bordo de um carro comprado para a ocasião, o fotógrafo percorreu o país registrando a vida de ricos e pobres, na cidade e no campo. Foi do chão de fábrica ao banco, do drive-in a Hollywood, foi a parques públicos, festas da alta sociedade, manifestações políticas, enterros e rodeios. O projeto durou dois anos e resultou em 27 mil imagens, das quais Frank selecionou, primeiro, duas mil. De uma última seleção, restaram as 83 fotos que definem os Estados Unidos dos anos 1950, com sua sociedade consumista enfrentando o debate dos direitos civis e outras questões políticas e comportamentais.
O escritor Jack Kerouac escreve, no prefácio de “The Americans”, livro que Frank fez com base nesta série e lançou em 1958, que o fotógrafo “registrou cenas jamais vistas em filme fotográfico” e que “sugou um poema triste dos Estados Unidos”, tornando-se um dos “poetas trágicos do mundo”.
Pela primeira vez, essas fotos selecionadas a dedo por Robert Frank e que compõem o livro que também se tornou um marco entre as publicações da área serão expostas em sua totalidade no Brasil. A clássica série foi escolhida pelo Instituto Moreira Salles para inaugurar a sua sede na Avenida Paulista, em agosto. Robert Frank, 92, já disse que vem para a abertura, dia 21, e para o lançamento de sua obra em português.
“Queríamos mostrar um grande momento de um grande fotógrafo e The Americans se impôs”, conta Samuel Titan Jr., coordenador executivo cultural do IMS. “Esse clássico nasce de um desejo de transgressão. Não é o clássico do equilíbrio, da harmonia ou do acabamento. Na hora em que o Frank entra em cena, a grande questão é fazer boa fotografia em movimento. Tirá-la do cânone de equilíbrio, harmonia e composição”, completa.
Mas não são apenas as imagens emprestadas pela Maison Européenne de la Photographie, da série impressa nos anos 1980 (há também a dos anos 1950, somando cerca de dez coleções no mundo), que estarão em exibição. A nova mostra Os Livros e Os Filmes também será trazida para celebrar a carreira de 70 anos do artista que, após o sucesso de The Americans, trocou a fotografia pelo cinema experimental – e depois voltou à fotografia.
“Uma vez ele me disse que as pessoas não deviam ser muito respeitosas com suas fotos, que elas foram feitas para todo mundo e não para serem vistas emolduradas. E disse que as pessoas devem olhá-las como olham para um livro”, explica Gerhard Steidl, dono da Steidl, considerada a maior editora de livros de fotografia do mundo e que desde 1988 trabalha com Frank.
Há sete anos a dupla começou a formatar essa mostra de realização simples e baixo custo. Em tiras de papel-jornal em tamanhos variáveis, acompanhamos uma montagem que apresenta cada um de seus trabalhos.
“É uma retrospectiva que, usando uma expressão de Frank, dá as costas ao mercado e às instituições que dão as cartas no mundo da arte. É o Frank replicando o gesto iconoclasta que estava lá no começo e chamando para si a sua obra, não deixando que ela se fetichize e ganhe uma incômoda vida própria”, diz Titan. O IMS prevê, ainda, a exibição de toda a filmografia de Frank. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.