Pinturas, esculturas, desenhos e gravuras que Henri Matisse (1869-1954) criou e retrabalhou longa e arduamente entre 1913 e 1917 são vistos, em geral, como obras não correlacionadas e reações do artista francês a influências do cubismo e à 1ª Guerra Mundial. A exposição e o livro “Matisse: Radical Invention, 1913-1917”, resultado de cinco anos de pesquisas realizadas pelo Art Institute of Chicago (AIC) em colaboração com o Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, redefinem o que o artista francês produziu durante aqueles cinco anos. Análises de especialistas dos dois museus americanos evidenciam a realização de um projeto específico, coeso e consciente, a versão matissiana de modernismo.
Exibida em Chicago no primeiro semestre e em exposição no MoMA só até 11 de outubro, “Radical Invention” detalha a reviravolta que ocorreu na arte de Matisse quando as cores vibrantes do fauvista foram superadas por pretos, cinzas ou azuis escuros, e suas linhas arabescas deram lugar à geometria beirando a abstração.
Ele apontava entre as telas mais fundamentais de sua carreira “Banhistas na Margem de um Rio”, que pertence ao acervo do Art Institute e na qual ele trabalhou de 1909 a 1917, e “Os Marroquinos”, pintado em 1916 e da coleção do MoMA. Por meio de novas tecnologias digitais, a mostra leva o observador a acompanhar as mudanças de curso nessas e em mais de cem obras e compreender por que Matisse reconhecia a importância daquele período na sua carreira.
Mudanças – Até ali ele vinha explorando a linguagem da cor em estampas decorativas, dissolvendo e reconstruindo espaços com camadas de cores ou justapondo áreas de tons contrastantes. As mudanças surgiram em 1913, depois que ele voltou de sua última viagem ao Marrocos. Seu interesse agora era a estrutura. Para clarear suas ideias e formas, a relação entre pintura e escultura, que já se via em trabalhos como dois pequenos bronzes de 1906 e o óleo sobre tela “Nu Azul” (Lembrança de Biskra), pintado no começo de 1907, tornou-se um dos instrumentos mais importantes no seu projeto.
No caminho para simplificar as formas “ao caráter mais puro e essencial” que buscava, ele partiu de lições aprendidas com Gustave Moreau. Este dizia para os alunos se concentrarem nos elementos de construção quando os mandava ao Louvre copiar pinturas dos velhos mestres. “Radical Invention” mostra como ele fez isso com os próprios trabalhos, reutilizando composições, poses e temas para desenvolver o que chamou de “métodos de construção moderna”, deixando ver na obra final os meios que usou para criá-la. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.