Mostra no Masp une arte do sagrado e tecnologia 3D

A tecnologia 3D entra agora no Masp, na exposição “Deuses e Madonas – A Arte do Sagrado”, que será aberta hoje para o público. Numa instalação criada especialmente para o museu, o videoartista mineiro Eder Santos faz intervenções na cena do quadro O Julgamento de Páris (1710/20), pintado por Michele Rocca (1666-1752) – com óculos especiais, os visitantes podem ver os elementos da pintura ganharem tridimensionalidade. Eder dá singelo movimento ao cupido, nuvens, folhas de árvore e corpos da obra ou ainda faz passar, por exemplo, uma revoada de pássaros na pintura, projetada e agigantada no local (e ainda se estudava, até ontem, se o trabalho receberia também som).

“É tudo experiência”, diz o artista, pela primeira vez usando a tecnologia 3D em espaço museológico. “É o começo de um laboratório multimídia no museu”, continua Eder, que também exibe no Masp a obra Vício, de 2001, em que um bloco em baixo relevo de mármore recebe imagens projetadas. “Inevitável que se transforme numa atração, num espetáculo, porém não-grandioso”, afirma o curador-chefe do museu, Teixeira Coelho, sobre o experimento tecnológico do artista. Já faz quatro anos que se tem o projeto de realizar uma grande exposição de Eder Santos no Masp (a mostra incluiria a instalação de grande monitor na fachada da instituição, com imagens sendo trocadas em tempo real). A intervenção no quadro O Julgamento de Páris marca, assim, a primeira entrada do artista nas atividades do museu – o problema é patrocínio.

Promover uma transformação na cena mitológica pintada por Michele Rocca foi, segundo Eder Santos – que dia 22 inaugura no Museu Vale, em Vila Velha (ES) a exposição “Atrás do Porto Tem Uma Cidade” -, uma maneira de jogar com a ironia que existe na representação. O quadro fala do mito que desencadeou a Guerra de Troia. Nele, Éris, deusa da discórdia, por não ser convidada para o casamento de Peleu e Tétis, fica irritada e envia ao evento uma maçã de ouro. O objeto deveria ser dado à “mais bela” do banquete, a ser escolhida por Páris (ganhou a deusa Afrodite). “É um momento bom para se falar em escolhas”, diz o artista, se referindo à atual eleição presidencial.

Mas a exposição não se encerra nas obras de Eder e compreende ainda cerca de 40 pinturas e esculturas, datadas entre os séculos 14 e 19 e pertencentes ao Masp. Deuses e Madonas, no 2.º andar, encerra ciclo de mostras que apresenta a coleção do museu por meio de temas. “As possibilidades para ler o acervo são essas”, diz Teixeira Coelho, que preparou exposições temáticas sobre o retrato, a natureza-morta, a questão da “virtude e aparência” e também da “Arte do Mito”.

Agora, “Deuses e Madonas” parte de uma ideia de “sagrado” não no sentido cristão, mas relacionada ao conceito de “numinoso” (o indizível). Entre as obras-primas do museu, estão na mostra São Jerônimo Penitente no Deserto (1451), de Andrea Mantegna (que volta de restauro feito no Museu do Louvre) e ainda telas de Delacroix, Botticelli, El Greco, Rafael e Tintoretto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Deuses e Madonas – A Arte do Sagrado – Masp (Av. Paulista, 1.578). Tel. (011) 3251-5644. 11h/18h (5ª, 11h/20h; fecha 2ª). Ingressos a R$ 15 (3ª, grátis). Até 16/1.

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