Mostra no CCBB reúne filmes do diretor Vincente Minnelli

Ex-marido de Judy Garland, pai de Liza Minnelli – as mulheres sempre foram importantes na vida e na obra de Vincente Minnelli. Graças a uma iniciativa do Centro Cultural Banco do Brasil, é tempo de lembrar o artista que morreu em 1986, aos 74 anos. Há 25 anos, portanto – e no ano que vem comemora-se o centenário de nascimento do diretor que ostenta o título de rei dos musicais. No gênero, mas não apenas nele, Minnelli foi o esteta que deu significado dramático à cor. O verde e o vermelho de “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse” foram subestimados no lançamento, em 1961, mas a recente reedição do filme, em cópia restaurada, na França, levou a uma rara unanimidade.

O melodrama para o qual muitos críticos torceram o nariz, há 50 anos, recuperou sua aura. Melodrama? Putting melos into drama – Minnelli pode ter introduzido a melodia (e os sentimentos) em seus dramas, mas isso não torna “Assim Estava Escrito” (The Bad and the Beautiful), de 1952, nem “Sede de Viver”, de 1956, menos poderosos. A obra-prima dramática do autor é “Deus Sabe Quanto Amei”, com Frank Sinatra, de 1959, como sua melhor comédia é “Papai Precisa Casar” (The Courtship of Eddie’s Father), de 1962, com Glenn Ford e um garotinho que haveria de crescer diante das câmeras e, por trás delas, virou diretor prestigiado, com direito a Oscar no currículo, Ron Howard. As coisas tornam-se consideravelmente mais difíceis quando se trata de apontar o melhor musical de Minnelli.

Aqui, cabe uma digressão. Aos 3 anos, ele subiu ao palco, pela primeira vez, para cantar e dançar. Tornou-se figurinista e, aos 20 anos, já era o cenógrafo oficial do Radio City Music Hall, em Nova York. Aos 40, estreou em Hollywood, na Metro, estúdio no qual desenvolveu quase toda a sua carreira. Fez um filme na Fox, outro na Paramount. O estúdio da marca das estrelas foi a sua casa, e por um bom motivo. Na MGM, o produtor Arthur Freed teve carta branca para montar uma unidade que mantinha sob contrato permanente diretores, cenógrafos, coreógrafos, músicos, todos voltados à realização de musicais.

“Agora Seremos Felizes” e “O Ponteiro da Saudade”, de 1944; “Iolanda e o Ladrão”, de 1946; “O Pirata”, de 1947. Minnelli já era considerado um ás do musical quando, em 1951, “Sinfonia de Paris” ganhou o Oscar de melhor filme, mas não o de melhor diretor. A Academia preferiu atribuir a estatueta daquele ano a George Stevens, por “Um Lugar ao Sol”. Sete anos mais tarde, Minnelli ganhou as duas, de melhor filme e direção, por “Gigi”. E no intervalo, encheu a tela com seus brilhantes musicais – “A Roda da Fortuna” (The Band Wagon), “A Lenda dos Beijos Perdidos”. Um admirador de carteirinha, o crítico francês Jean Domarchi, dizia que Minnelli levou para o musical “uma estilização extrema”, “uma vontade estética”. O que o autor fez foi algo maior – Minnelli criou uma estética do sonho para, por meio dela, recriar o mundo.

Todo Minnelli estará em revisão no CCBB. São filmes que realizam uma trajetória não propriamente em busca da luz, mas da consciência. O Glenn Ford que destrói o QG dos nazistas, no inferno de “Os Quatro Cavaleiros”; a Liz Taylor que usa aquele poncho para se proteger, física e moralmente, quando vai à festa na praia, em “Adeus às Ilusões”. O culto a Minnelli começou em “Cahiers du Cinéma”, nos anos 1950. No fim dos 70, a revista decidiu que ele era um ‘falso autor’. O cinema de Minnelli muitas vezes – quase sempre? – foi objeto de análises superficiais, para o bem e para o mal. Ele próprio, trabalhando com um material tão volátil quanto o sonho, faz um cinema de ‘camadas’, profundo a despeito da superfície. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Vincente Minnelli Cinema de Música e Drama – CCBB (Rua Álvares Penteado 112, Centro). Tel. (011) 3113-3651. R$ 4. Até 11/9.

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