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Mostra mergulha no universo profundo e denso do poeta Manoel de Barros

Manoel de Barros era como sua obra: leve, divertido, sedutor. E era um estudioso, um trabalhador obstinado, focado em sua poesia. Quem diz isso é Martha, sua filha e ilustradora preferida, responsável pelos belos desenhos que vemos nas capas de seus livros. E é esse Manoel de Barros, do verso enganosamente simples e sorriso largo, que encontraremos na 43.ª Ocupação do Itaú Cultural, com abertura na noite desta quarta, 13.

“Ele, o poeta, estará inteiro nessa ocupação. A memória de sua obra e sua estética. Tem muito de sua vida, fotos, depoimentos de amigos e familiares, seus originais, suas cores, seus delicados desenhos, depoimentos dele e sobre ele”, comenta Martha, que mergulhou no acervo do seu pai, morto em 2014, para escolher, entre os inúmeros papéis e papeizinhos guardados por este cuiabano que passou seus primeiros oito anos numa fazenda e o resto da vida entre o Rio e Campo Grande, sobretudo Campo Grande, o que seria apresentado na exposição.

“Rever bilhetinhos com suas preferências cotidianas me emocionou demais. Descobri rascunhos com trechos sobre questões de vida, importantes para mim, como a dúvida”, comenta. Ela teve ajuda de uma equipe do Itaú Cultural para abrir essas caixas e gavetas.

O que buscavam, no início, eram os originais do poeta e seus famosos caderninhos – feitos por ele mesmo, todos escritos a lápis, com pistas de seu processo criativo, e nunca expostos. Mas encontraram coisas ainda mais valiosas, como escritos inéditos. E mais rascunhos, bilhetes, cartas, além de livros em latim do tempo da escola – Os Sermões, de Padre Antônio Vieira, com suas anotações, estará na mostra ao lado de seis desses caderninhos.

Que o visitante não espere uma “Ocupação Pantaneira”, alerta Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural e um dos curadores. Ele conta que desde o início decidiram por uma exposição colorida que fosse um convite para ler a obra de Manoel de Barros sem entregar nenhuma interpretação. Nem Pantanal, nem seus bichos. “Podemos ler e interpretar Manoel de Barros na nossa vida urbana. Podemos ler sua obra no metrô e perceber a questão de olhar para o outro lado, de ver as pequenas coisas, de deixar de ter uma vida normativa e repetitiva. Ele usa a garça e os elementos dele; você pode usar os seus. O importante é a poética do olhar”, diz Ferreira. “E olhar para o outro lado, para o chão, para as coisas pequenas, e ler Manoel de Barros no Brasil de hoje tem uma importância também política”, conclui.

Adriana Yazbek, responsável pela expografia, ressalta que será “tudo alegre, como Manoel”. “Como ele fala muito de chão, vemos a obra dele materializada no marrom. Não foi o que levamos para o espaço. Levamos a leveza e a alegria”, explica Adriana. Leitora do poeta, ela também destaca que não queriam que o espaço se transformasse numa legenda da obra do Manoel de Barros. “A ideia é que o visitante possa produzir suas próprias imagens e não queríamos prejudicar essa fruição.”

Em cartaz até 7 de abril, a exposição é um convite para um passeio pelos bastidores de uma obra tão particular. E, para Martha Barros, foi um reencontro com seu pai.

“Reencontrei ensinamentos de um pai poeta, de quem tenho uma saudade imensa. Reencontrei esse pai poeta com essa linguagem sofisticada e tão simples ao mesmo tempo, mas que sempre nos surpreende, por seus poemas nos tirar do lugar e nos humanizar, sobretudo. Fiquei várias vezes perplexa com alguns escritos particulares sobre os mistérios da vida, ditos com tanta sensibilidade, de um modo tão emocionante. Pude compreender melhor a sua grande obsessão pelas palavras, pela linguagem, pelo encantamento que tinha por coisas pequenas, invisíveis, sem importância para esse mundo de hoje, tão corrido, que dá tanta importância ao ter.”

OCUPAÇÃO MANOEL DE BARROS

Itaú Cultural. Av. Paulista, 149. 3ª a 6ª, 9h/20h. Sáb., dom., fer., 11h/20h. Abre 4ª (13), 20h. Grátis. Até 7/4

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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