São quase três centenas de fotos, 15 vídeos e uma instalação site specific de 25 artistas, que representam 13 países latino-americanos, mas, curiosamente, não são imagens violentas do tráfico de drogas, de marginais ou miseráveis, pelas quais os povos do Hemisfério Norte reconhecem a fotografia abaixo do Equador. São fotos que retratam o diálogo interclassista pelo viés da ficção, talvez a única possibilidade real de trânsito entre diferentes classes sociais na América Latina, a julgar pela exposição Fotonovela:
Sociedade/Classes/Fotografia, que o Itaú Cultural abre amanhã, 16, para convidados, em sua sede. O público poderá, a partir de quinta, 17, conferir a mostra, que tem curadoria do brasileiro Iatã Canabrava e do espanhol Claudi Carreras.
Paralelamente à exposição, os mesmos organizadores promovem o III Fórum Latino-Americano de Fotografia, que reúne fotógrafos, curadores e críticos para discutir temas como o papel e a imagem da foto latino-americana na mídia internacional, coletivos de fotografia, o mercado nas economias emergentes e as narrativas visuais contemporâneas. Entre os convidados estão especialistas como o crítico e curador espanhol Horácio Fernández, a crítica Simonettta Persischetti, do Caderno 2, do jornal “O Estado de S.Paulo” a célebre fotógrafa mexicana Graciela Iturbide e o antropólogo argentino Néstor García Canclini.
Ao percorrer a mostra, dividida em dois andares, o visitante fica em dúvida se o que vê é cenário de telenovela ou real. A questão do simulacro, justificam os curadores, determinou a seleção dessas imagens que ajudam a entender melhor a estrutura da pirâmide social fincada em diferentes sociedades latinas – de maneira menos ou mais perversa, dependendo do tempo de ingresso da população de baixa renda no mercado consumidor. A definição de uma nova América Latina por meio do olhar dos fotógrafos participantes – grande parte deles oriundos da classe média – tem, portanto, algo de autobiográfico, segundo o curador Iatã Canabrava. Há até mesmo exemplos extremos, como o do autorretrato do uruguaio José Pilone, indeciso diante do guarda-roupa, e da brasileira Helena de Castro, que construiu um álbum de imagens familiares com a ajuda do filho, muitas vezes vestido como um super-herói. “Descobrimos suas fotos por meio do aplicativo Instagram”, revela Canabrava. Ele e o outro curador. Claudi Carreras, foram atraídos nas fotos de Helena pelo “sujeito híbrido” de que fala Canclini, formado na intersecção da cultura popular com a classe média que cobiça o andar superior da pirâmide.
FOTONOVELA: SOCIEDADE/CLASSES/FOTOGRAFIA – Itaú Cultural. Av. Paulista, 149, 2168-1776. 3ª a 6ª, 9h/ 20h; sáb, e dom., 11h/ 20h. Grátis. Até 22/12. Abertura amanhã, 20 h.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.