Desde a 35.ª Mostra – há oito anos – nenhum artista brasileiro assinava o cartaz do evento. A escolha de Nina para criar o pôster da 43.ª Mostra não é nem um pouco acidental. Nesses tempos sombrios, em que a grosseria virou norma, a delicadeza da artista parece coisa de outro mundo – de outra era, com certeza. A Mostra realizou no sábado, 5, a coletiva de lançamento da sua edição 2019. O Espaço da Augusta abrigou a solenidade. Presentes na mesa, autoridades, patrocinadores. Renata de Almeida começou citando os tempos difíceis que o Brasil atravessa. Lá estavam a presidente da Spcine, Laís Bodanzky, o secretário Municipal de Cultura, Alê Youssef, o diretor do Sesc, Danilo Santos de Miranda, etc. Falaram muito em ‘filtros’, ‘resistência’. A Mostra, desde suas origens, durante a ditadura, foi sempre sinônimo de resistência.
O pôster virou uma linda vinheta. “A Mostra é brasileira no DNA”, destacou Renata, citando, além do pôster, o filme de abertura, Wasp Network, de Olivier Assayas, produzido por Rodrigo Teixeira e adaptado do best-seller de Fernando Morais, Os Últimos Soldados da Guerra Fria e o de encerramento, Os Dois Papas, produção internacional dirigida por um brasileiro, Fernando Meirelles. Nunca houve tantos filmes brasileiros na seleção – cerca de 60. “E é uma seleção surpreendentemente forte”, diz Renata, agora é a curadora falando. A Mostra deste ano terá uma parte de sua programação no Teatro Municipal. Laís e Alê destacaram que, em momento algum, a Spcine e a Prefeitura, por meio de sua secretaria da Cultura, tentaram exercer filtros. Toda liberdade à curadoria – a Renata e sua equipe.
A Mostra começa em 17 de outubro e segue até 30. Como ocorre sempre, terá mais uma semana de repescagem. Ao longo de duas semanas, deve apresentar cerca de 300 filmes de 45 países. Serão exibidos em 27 locais, entre salas de cinema, espaços culturais, CEUs e museus espalhados pela cidade de São Paulo, incluindo apresentações gratuitas e ao ar livre.
O Brasil contempla a maior seleção – 1/5 dos filmes, entre eles A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, premiado em Cannes e indicado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro. Como o longa de Aïnouz, outros 11 filmes indicados por seus países para tentar concorrer ao Oscar integram a programação. Entre eles – Parasita, do sul-coreano Bong Joon-ho, que venceu a Palma de Ouro em Cannes, e mais títulos que fizeram sensação na Croisette. O Paraíso Deve Ser Aqui, do palestino Elia Suleiman, e Papicha, de Mounia Meddour, da Argélia. Suleiman receberá o Prêmio Humanidades, com que a Mostra honra autores por sua contribuição estética e humanística. Seu amigo, o israelense Amos Gitai – ambos são a prova de que o diálogo é possível no Oriente Médio – receberá o Prêmio Leon Cakoff.
Justamente Gitai e Olivier Assayas serão contemplados com retrospectivas. O israelense lança em São Paulo o livro Em Tempos Como Estes… Correspondências, que reúne cartas escritas por e para sua mãe, Efratia Gitai. E, a par da homenagem à sua mãe, homenageia também o pai, Munio Weinraub, forçado pelos nazistas a abandonar a Alemanha (e a Bauhaus). Gitai fez para ele o filme Lullaby To My Father. Amigo da Mostra, o crítico Rubens Ewald Filho, que morreu em 19 de junho, também será lembrado, e homenageado. Há de ser uma bela sessão, a de O Mágico de Oz, no Vão Livre do Masp. A jovem Judy Garland vai cantar Over the Rainbow e o público, mais uma vez, será convidado a seguir com ela por aquela estrada de tijolos até o mundo da fantasia. Já na repescagem, em 2 de novembro, os 100 anos do clássico O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, será lembrado com a projeção do filme com música ao vivo no Ibirapuera. A Mostra resgata o passado olhando para o futuro. Haverá, no CineSesc, uma programação especial dedicada à VR, realidade virtual. E o 3.º Fórum Mostra promoverá debates e encontros com o objetivo de contribuir para a reflexão sobre o fazer cinematográfico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.